Recentemente, a Comissão Nacional de Justiça e Paz dirigiu-se aos cristãos portugueses, suas comunidades, organizações e movimentos, convidando-os a aproveitarem este Tempo Quaresmal para reflectirem, à luz dos critérios evangélicos e da Doutrina Social da Igreja, sobre os problemas, opções e perspectivas que marcam a sociedade onde nos inserimos.
Como trabalhador cristão, inserido num Movimento (LOC/MTC) que, desde sempre, tem tido como preocupação dominante a participação dos seus membros na construção de uma sociedade nova, através da crítica e denúncia dos erros, mas também assumindo e desenvolvendo na sua acção os valores que antecipam e criam as condições dessa mesma sociedade, não posso deixar de me congratular com esta feliz iniciativa.
Comungo integralmente das preocupações e críticas contidas nos primeiros parágrafos da “Carta”, onde de forma simples, concisa, mas igualmente incisiva, são assinalados os principais problemas que marcam a sociedade portuguesa, a maior parte dos quais, conforme é referido na última Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, constituem verdadeiros pecados sociais, cuja remissão só poderá ser operada através do compromisso interessado e permanente dos cristãos.
Não posso, igualmente, deixar de estar de acordo com as três razões que levaram a CNJP a tomar esta iniciativa.
Pelo seu interesse e importância, saliento a terceira, que se refere ao reconhecimento de que os cristãos pouco confrontam as suas atitudes e comportamentos nas diversas áreas da sociedade onde estão inseridos, com as exigências que decorrem da sua fé em Jesus Cristo.
Para além da denunciada “muralha de silêncio” que, em muitas comunidades e assembleias cristãs, paira sobre os problemas que afectam e condicionam a sociedade portuguesa, não deixa de ser igualmente preocupante a tendência, a nível individual ou colectivo, para os cristãos fugirem a esses mesmos problemas e procurarem refúgio em práticas religiosas intimistas que, em não raros casos, são alienantes, funcionando como verdadeiras anestesias face à gravidade dos problemas sociais existentes.
Neste contexto, não deixará de ser importante referir a influência negativa que tem resultado da prática e actuação (consciente ou não) de alguns movimentos de cariz integrista, recentemente chegados a Portugal, cuja prática, em muitos casos, constitui um dos principais obstáculos a vencer por aqueles que se comprometem na transformação da sociedade e, no interior da Igreja actuam para que esta seja verdadeiramente “luz”, “sal” e “fermento”.
A terminar, não poderei deixar de reforçar o apelo e as convicções referidas pela CNJP. Como muito bem se diz é necessário fomentar “outro olhar”, outros valores e outras atitudes da nossa sociedade. É necessário combater o comodismo em que frequentemente os cristãos se deixam cair.
Serafim Vieira
Membro da Equipa Nacional da LOC/MTC