Dossier

Educador aberto na década de 60

Joaquim Pina Moura
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Fui aluno de D. Armindo Lopes Coelho, nos anos 60, no liceu de D. Manuel II, no Porto. Eu era católico e adolescente. Ele era um jovem padre e professor de Religião e Moral. A imagem e a memória que dele guardo é a de um educador empenhado, de um homem aberto, de um apóstolo da mensagem de Cristo, sob o impulso renovador do Concílio Vaticano II. Não era fácil ser jovem e adolescente, em Portugal, há 35/40 anos. As capacidades e as pulsões generosas de cada um de nós - estimuladas pelos conhecimentos que os nossos professores nos revelavam e fundadas nos valores que a educação da família nos transmitia - esbarravam numa sociedade adversa à liberdade de afirmação; numa escola rígida, formalista e autoritária; nos códigos sociais que exprimiam atraso e conser-vadorismo. A minha memória das aulas e do convívio com o padre Armindo Lopes Coelho, é de um espaço onde se podia «respirar»; onde a autoridade se fundava no respeito mútuo; onde não havia nem tabus nem anátemas. Isto pode parecer, hoje, pouco relevante e até um pouco rísivel, porque vivemos numa sociedade aberta. Não o era em meados da década 60 quando todos e cada um de nós, percorríamos os caminhos de formação da nossa personalidade e de afirmação da nossa própria identidade. Sim, é verdade: encontrámos nas aulas do padre Armindo e na sua maneira de ser e de agir, um «porto de abrigo» para as nossas dúvidas e inquietações e um «cais de esperança» para os nossos sonhos e ambições. Na altura não sabíamos, mas hoje sabemos: ele era, juntamente com uma pleiade de jovens padres seus contemporâneos (recordo, também, D. Manuel Martins, então pároco da freguesia de Cedofeita, mesmo junto ao liceu, cuja igreja muitos de nós frequentavam) a geração formada por D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, exilado por Salazar, na sequência das «eleições» presidenciais de 1958. Foram eles que, com a sua missão pastoral e a sua coragem cívica, espalharam a «boa nova» do Vaticano II, atrai-ndo muitos dos jovens e adolescentes de então a um cristianismo activo e socialmente empenhado. Por mim, eu posso falar: o catolicismo do Vaticano II, ensinado e praticado por padres como D. Armindo Lopes Coelho, foi o primeiro fundamento da formação da minha consciência social e política. Essa viragem histórica na Igreja Portuguesa marca ainda hoje a sua intervenção na nossa sociedade. Essa geração de jovens padres, ordenados nos anos 50 e 60,constituem a elite do Episcopado português na actualidade. Foi já nesse seu novo múnus que reencontrei D. Armindo Lopes Coelho, muitos anos depois. Esse reencontro permite-me, agora, o privilégio de deixar aqui este meu testemunho. Ele é para todos, crentes ou não, um exemplo de rectidão, de pensamento livre e de dávida. Bem-haja, D. Armindo, pelos seus 50 anos de apostolado ao serviço do Homem. 15 de Março de 2004 Joaquim Pina Moura


D. Armindo Lopes Coelho