Foi em 26 de Novembro de 1989, que se juntaram em Fátima, a convite da nossa Conferência Episcopal, os bispos delegados da Igreja católica do Brasil, dos Cinco Países africanos de língua oficial portuguesa, de Goa, de Macau, de Timor e, também, do Japão.
Vieram para dar início, com o episcopado português, às solenes comemorações dos Cinco Séculos de Evangelização e Encontro de Culturas, com uma celebração no Santuário de Fátima, sob a presidência do cardeal D. António Ribeiro.
Mais tarde, surgiu a ideia de se juntarem os delegados da Igreja católica dos países lusófonos, com a periodicidade a determinar e rodando por todos esses povos. Foi ideia que teve óptimo acolhimento.
Marcou-se, por sugestão vinda da Igreja desses países, a primeira reunião para Fátima, de 9 a 12 de Maio de 1996, concluindo-se com a peregrinação internacional do dia 13. Presidiu a esta celebração o cardeal Alexandre do Nascimento, então presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé.
O encontro dos bispos delegados foi extremamente frutuoso, marcado por uma viva fraternidade e solidariedade cristãs.
Todos partilharam anseios, projectos, carências e preocupações, como membros da mesma família. Parecia que todos nos conhecíamos desde sempre e tínhamos vivido no mesmo lar. Cinco séculos de convivência não podiam deixar de ter, também, boas consequências.
É certo que se deram acontecimentos, alguns traumatizantes, que a história arquivou, mas apesar disso a confiança e convivialidade não foram prejudicadas nesta nossa reunião de Fátima.
A compreensão e a fé ajudaram a entender que a existência dos povos, como das pessoas, não se processa rectilineamente, mas regista altos e baixos e, por vezes, graves contradições.
Repito, esta consciência dos erros do passado não entravou o ritmo do nosso trabalho, antes estimulou a necessidade do aprofundamento da nossa solidariedade.
Nos documentos de trabalho e no número da revista Lumen dos meses Julho/Agosto de 1996, podemos encontrar mais pormenores sobre este acontecimento eclesial.
A grande conclusão, depois dos quatro encontros já realizados – em Portugal, Angola, Brasil e Guiné-Bissau – foi, a meu ver, concluirmos que é bom, importante e necessário, encontrarmo-nos.
Logo em Fátima ficou marcada a reunião seguinte para Angola, assim como se definiram alguns princípios orientadores destes encontros.
Concluímos, também, que cada um dos presentes procuraria estimular a mútua ajuda nos respectivos países, sempre no sentido de responder às carências apresentadas em cada encontro.
A Fundação – Evangelização e Encontro de Culturas, com sede em Lisboa, seria, com a anuência de todos, o organismo indicado para promover a concretização das decisões tomadas nestas assembleias de delegados.
A intensificação da comunhão da Igreja católica nos países lusófonos e entre todos eles vai claramente no sentido da ideia chave do Concílio Vaticano II, que insiste na urgência de se fortalecer cada vez mais essa comunhão, sempre com sentido evangelizador.
Compreendem-se, por isso, as mensagens recebidas do Papa, que nos chegaram pelo seu Secretário de Estado, em que se congratula com esta iniciativa e manifesta o desejo de que ela perdure por muito tempo.
Depois da reunião de Fátima, foram todos os delegados a Luanda, apesar de ainda haver guerra em Angola.
O acolhimento franco e amigo, o bom ritmo de trabalho, as conclusões publicadas e, nomeadamente, o apoio expresso ao trabalho da Igreja de Angola a favor da paz, fizeram-nos regressar, cada um a seu país, com alegria acrescida.
Decidiu-se aí que a assembleia seguinte seria em 2001 no Brasil, por 2000 ser o ano do jubileu universal e todos estarem muito ocupados na sua realização.
Desse encontro no Brasil e daquele que se realizou agora na Guiné-Bissau outros falarão.
Tenho pensado, muitas vezes, que o fio de água, que depois se transforma em rio, deve ser uma realidade acarinhada desde o princípio.
Estas assembleias começaram discretas e modestas, mas, porque foram sempre compreendidas e estimadas, tornaram-se sinal da acção do Espírito Santo na Igreja.
À luz daquilo que fica escrito nestas linhas e que tive oportunidade de referir a D. Elias Yanes, ao tempo presidente da Conferência Episcopal Espanhola, compreende-se a sua exclamação: “Que bom seria que outro tanto fosse feito entre a Igreja de Espanha e a Igreja dos países de expressão oficial castelhana! Mas é muito difícil!”.
Compreendi esta reacção, expressa com alguma pena, e apreciei melhor ainda o dom que Deus nos fez, ao dar-nos o gosto e a alegria de nos reunirmos.
D. João Alves, Bispo Emérito de Coimbra