Parece paradoxal o título desta reflexão. Quaisquer que sejam as estruturas do poder local, todas elas devem visar a satisfação do bem comum. O poder só tem significado quando entendido, por quem o exerce, como uma forma ainda mais empenhada de estar ao serviço dos outros. E mais empenhada porque resulta, normalmente, de uma escolha que as populações locais fazem face ao conjunto de características vincadamente pessoais apresentadas, mais do que quaisquer outras, sejam elas de que natureza forem.
Circunstâncias particulares da minha vida levaram-me a tomar contacto, de uma forma muito mais próxima, nestes últimos três anos, com diversas instituições, todas elas tendo como finalidade a realização do bem-estar dos diversos públicos a quem as mesmas se destinam, independentemente da sua natureza – pública ou privada.
Nunca houve, na sociedade, tanta “oferta” de serviços como nos dias de hoje. Das paróquias – ao nível da intervenção da Igreja – às freguesias – ao nível do poder local –, todas as estruturas existentes querem proporcionar, aos seus “utentes”, as respostas aos seus problemas. Significa isto que, se não existir uma preocupação de articulação muito estreita e continuada entre as diversas instituições, existe um risco real de duplicação de respostas para o mesmo caso ou, ironicamente, ausência de respostas porque cada uma “pensa” que a outra já a deu.
Por outro lado e face ao grande salto qualitativo ultimamente havido quanto à formação das pessoas que trabalham – a todos os níveis – nas diversas instituições, nota-se uma preocupação, por parte dos diversos actores, de apresentação de resultados e actuações com carácter vincadamente “tecnicista”, esquecendo muitas vezes a “humanidade” que deve continuar e mesmo sobrepor-se na multiplicidade das interacções relacionais que são geradas.
Em situações de calamidade pública ou tragédias humanitárias resultantes de causas naturais ou não, a experiência no terreno, nomeadamente a dos incêndios de 2003, leva-me a afirmar que a interacção e coordenação havida entre as instituições que no imediato estiveram no teatro das operações, permitiram encontrar as respostas necessárias para minorar ou mesmo resolver as situações daqueles que foram vítimas dessas mesmas tragédias, nomeadamente aqueles que menos recursos possuíam, de uma forma efectivamente articulada. É nestas circunstâncias, quando as fragilidades da condição humana são mais patentes, que são tidos em consideração os aspectos mais “humanistas” que “tecnocráticos” nas respostas dadas.
Penso que este aspecto merece, urgentemente, uma reflexão por parte daqueles que, de uma forma directa ou indirecta, são responsáveis pela gestão de tais instituições ou estruturas.
Elmano Nazareth Barbosa, Cáritas Diocesana de Santarém