1. A palavra “férias” acha-se associada, na linguagem corrente, a descanso, viagens, leitura, praia, campo... natureza. A natureza aparece assim, frequentemente, como se fosse um tipo ou destino de férias diferente de outros, e até alternativo em relação a eles.
Esta maneira de ver é perfeitamente compreensível, mas precisa de ser corrigida por outro tipo de leitura. Na verdade, cada um de nós faz parte da natureza, tem a sua identidade própria, que também é natureza. Por isso, necessita de se encontrar consigo, com os outros e com toda a natureza. Desse modo “retempera” forças e se reencontra a si mesmo inserido na sua origem, no cosmos envolvente e até na projecção eterna.
Os cuidados com a saúde e com todo o nosso ser, o aprofundamento de relações familiares, a permanência na “terra” de origem, os cuidados com o património familiar, a assunção de responsabilidades locais, as deslocações a outras “terras”, os passeios por montes, vales e planícies, a contemplação de horizontes próximos ou distantes... fazem parte do nosso encontro com a natureza durante as férias.
2. O mesmo encontro pode ser vivido pelas pessoas que não têm férias ou que as têm preenchidas por dificuldades várias na esfera da doença, carência económica, desemprego, complicações familiares e tantos outros problemas que podem afectar o dia-a-dia. Tudo isto faz parte da nossa natureza e se integra no encontro com a natureza envolvente.
Aliás, mal avisados andaremos se fizermos uma cisão radical entre o tempo de férias e o de trabalho ou estudo. Muito embora exista uma notória diferença entre esses dois tempos, e seja conveniente assumi-la, a verdade é que ela consiste mais no doseamento de actividades, relações e descanso do que naquilo que se faz e não faz.
Bom seria que o tempo de férias servisse para que os aspectos positivos dele próprio sejam vividos em todo o ano. Particularmente o encontro com a natureza e com as pessoas que não podem “gozar férias”.
Deste modo contribuiremos para «salvaguardar as condições morais de uma autêntica ecologia humana» (João Paulo II, Encíclica “Centesimus Annus”, nº 38).
Acácio F. Catarino