Dossier

Gerar emprego é possível

Agência Ecclesia
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Semanas Sociais Portuguesas 2006

Gerar empregos é possível e é mesmo uma obrigação moral para os cidadãos do nosso país. Esta foi a grande linha orientadora da edição 2006 das Semanas Sociais Portuguesas que juntaram centenas de pessoas em Braga, de 9 a 12 de Março. Muitas foram as soluções apontadas por economistas e antigos governantes do nosso país, defendendo a mudança profunda dos modelos económicos em Portugal. O economista António Borges, por exemplo, defendeu que o objectivo central deve ser a competitividade da economia e que é preciso maior critério no investimento, para não prejudicar a produtividade. "É precisa uma sociedade com mais liberdade, dando ênfase à criação de empresas, ao aparecimento de novas indústrias, à inovação", aponta à ECCLESIA. Já o presidente do Banco de Portugal, Vítor Constâncio defendeu o modelo social europeu perante as "pressões" da globalização. "A sociedade tem de assumir as suas responsabilidades. O Estado de previdência, embora tenha de ser objecto de reformas, deve manter-se no essencial", vinca. Numa intervenção particularmente mediatizada, o antigo ministro da Economia, Daniel Bessa, considerou um erro eleger o emprego como a prioridade da acção governativa e das empresas. "A prioridade das prioridades do mundo onde estamos inseridos não pode ser o emprego. Uma empresa que coloca o emprego como prioridade tem os seus dias contados", disse. Noutra perspectiva, Luís Braga da Cruz afirmou que "uma sociedade contemporânea, para ser justa e solidária, tem de inscrever como objectivo maior a criação de emprego, e também zelar pela sua manutenção. Falando sobre o papel das PME's e demais empresas na criação ou manutenção do emprego, o deputado na Assembleia da República defendeu a obrigatoriedade de "trazer à prática política uma atitude de maior ímpeto reformista e não hesitar quando é necessário enfrentar lobbies instalados". O investigador Rogério Roque Amaro disse na sua intervenção que, nos últimos 20 anos, ao contrário do que seria esperado, as iniciativas da sociedade civil "têm-se multiplicado". No campo do desenvolvimento social, apontou as "respostas comunitárias a problemas, sentidos como ameaças pela comunidade"; nesta área surgem como protagonistas em Portugal, por exemplo, os centros sociais e paroquiais. Apelos aos cristãos D. José Policarpo exortou os cristãos a intervirem na sociedade procurando ser "consciência crítica" desta sociedade em que vivemos. O Cardeal Patriarca de Lisboa fez questão de frisar que a "presença crítica da doutrina social não se faz, apenas, pelas declarações doutrinais do Magistério, mas pela intervenção dos cristãos na sociedade. Como protagonistas na vida da sociedade, eles devem impregnar do sentido de justiça e de amor as soluções procuradas". D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, recusou a "resignação perante o desemprego, “apontando o uso da inteligência como o factor decisivo para ultrapassar a falta de postos de trabalho. "Na articulação de sinergias e num exercício que envolve a trilogia trabalho, capital e inteligência, encontraremos os caminhos novos e corrigiremos a panaceia dos antigos. Lamentar- se não conduz a nada", afirmou. O presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, salientou que a Igreja, através das suas instituições, "tem dado um contributo grande na luta contra o desemprego ". Tal acontece "assumindo pessoas que o mercado de trabalho não acolhe", adiantou, referindo ainda que a Igreja "tem contribuído para a requalificação dessas pessoas criando nelas auto-estima". Manuela Silva, presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, defendeu que "as comunidades cristãs deveriam incentivar dinâmicas de reflexão e debate sobre estas temáticas e desafios básicos do nosso modo de viver, levando para o espaço público os valores do Evangelho".


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