Catarina Lopes - Coordenadora do Projecto de Apoio ao Interior da Guiné-Bissau
Guiné-Bissau
No contexto internacional e tendo como pano de fundo a Guerra no Iraque, a Guiné-Bissau dificilmente pode constituir fonte de interesse. As notícias em relação a esta ex-colónia portuguesa sempre foram poucas, confinadas a questões económicas e militares. Depois da Guerra de 1998 e dos conflitos em 2001 com a morte do General Ansumane Mané, regista-se rapidamente apenas uma ou outra notícia respeitante a greves de professores e de funcionários públicos e, de forma mais incisiva, ao encerramento da Rádio Bombolom, o encerramento temporário da RTP em Bissau e mais recentemente os pensamentos do Presidente Kumba Yalá, que ocuparam algumas páginas dos principais jornais portugueses.
A margem dos assuntos noticiosos fica um conjunto de informações na área da cultura e da educação. Por estas e outras razões, surge este dossier Guiné-Bissau sem razão aparente já que as eleições foram adiadas para dia 6 de Julho, não havendo nenhuma anomalia a registar ao processo de recenseamento eleitoral. Justifica-das as “aparências”, este dossier surge de uma vontade de fazer notícia alternativa a um país com um Índice de Desenvolvimento Humano extremamente baixo.
Longas metragens
para a Guiné-Bissau
Muitos são os filmes que marcaram a história do cinema. Quem não se lembra do chapéu e do chicote de Indiana Jones à caça da famosa esmeralda perdida ou do Santo Graal? Quem não se lembra das canções que nos tocaram o coração do filme Música no Coração? Alguns lembrar-se-ão dos conflitos entre professores e alunos cuja actriz protagonista foi MichelP
Retomando algumas películas conhecidas, devidamente adaptadas, com actores, encenadores e argumentistas africanos, apresentamos alguns assuntos sujeitos a nomeação para a Guiné – Bissau.
África minha
A relação de Portugal com África é histórica: foram as cruzadas; depois as Descobertas, passando pela Época Colonial. Reunidos actualmente segundo a nomenclatura de Países de Língua Oficial Portuguesa, Guiné – Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Angola e S. Tomé e Princípe constituem países por excelência da Cooperação de Portuguesa. Para além dos Programas de Cooperação trianuais, existem laços históricos e linguísticos que conduz a um certo sentimento de “pertença” e afectividade, por vezes, mais mítica do que real se não forem efectivamente estimulados projectos de cooperação.
Indiana Jones: Em busca da esmeralda perdida
Parente pobre dos Países de Língua Oficial Portuguesa, as dimensões da Guiné-Bissau geograficamente são comparáveis às do Alentejo com os seus 36.125 Km2. Pequeno de dimensões geográficas, a Guiné portuguesa destaca-se pelas cerca de 40 etnias que povoam o país, sendo uma das mais predominantes o Balanta. Da balatização tão referida nos meios de comunicação social (um Bispo balanta; um Presidente da República Balanta e postos de trabalho com relevância balantas), salienta-se um aspecto que na prática não se verifica, pelo menos no que diz respeito ao interior do país, que reside em conflitos étnicos. Existe efectivamente alguns desentendimentos, mas nas aldeias mais isoladas encontra-se uma rede de solidariedade entre etnias diferentes. O que poderá faltar à Guiné-Bissau é a esmeralda perdida defendida por Amílcar Cabral, o fundador do Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo Verde, ou seja, uma noção de identidade nacional: várias etnias, uma só nação.
Mentes perigosas
Se no filme com Michel Pfeifer, a relação entre professores - alunos é marcada por graves tensões, sendo desvalorizado o papel do professor, o mesmo não acontece na Guiné-Bissau. O principal obstáculo assenta na ignorância: a escola não é um bem para todos; o acesso ao ensino é um privilégio das populações urbanas e muito particularmente dos rapazes. Segundo dados do Ministério da Educação Guineense, a taxa de analfabetismo ronda os 63%; num universo de 100 homens, 47 são analfabetos, aumentando no caso das mulheres para 84.
Cidade de Deus
Apesar do território ser tão pequeno, a Igreja da Guiné-Bissau está representada em duas dioceses: a de Bissau e a de Bafatá. A religião predominante é a religião tradicional, animista. Cada indivíduo pode em simultâneo professar outro credo. A religião muçulmana é praticada por um número significativo de guineenses, existindo de forma menos representativa católicos e protestantes.
O papel da Igreja Católica na Guiné-Bissau é indiscutível, reflexo do testemunho e perseverança de missionários no período da Guerra de 98. Deste modo, se entende o papel de D. Settimio Ferrazetta, antigo bispo, na mediação dos conflitos, bem como o actual papel dos bispos, nomeadamente nas últimas declarações aquando dos conflitos sociais pelo atraso do início do ano lectivo de 2002/2003 e pelo Natal. Independentemente de nem sempre a Igreja não agradar a “gregos e troianos” é indiscutível e reconhecido em termos governamentais e sociais o seu papel no desenvolvimento da Guiné-Bissau na área da saúde e da educação.
Catarina Lopes
Coordenadora do Projecto de Apoio ao Interior da Guiné-Bissau
da Fundação Evangelização e Culturas (ONGD portuguesa)