Dossier

Há mar e mar, há ir sem voltar...

A. Silvio Couto
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Não deixou de causar uma certa surpresa a vaga de afogamentos que se verificaram no primeiro mês de veraneio. Casos houve em que numa só praia se contabilizou um afogamento em média por dia. Até nas praias fluviais cresceu a um ritmo galopante esta tragédia da perda de vidas nas águas, que de refrescantes se tornaram sepultura para tantos/as acalorados/as. Será que é o mar ou são os rios que estão mais perigosos? Será que as pessoas é que se estão a tornar mais incautas, imprudentes ou desgraçadamente vítimas de incúria pessoal e/ou colectiva? Ter-se-á investido o suficiente na vigilância das praias? Teremos uma população educada para usufruir os riscos de ‘ir a banhos’ ou limitamo-nos a lamentar quando a desgraça bate à porta? As estruturas de acompanhamento e socorro estarão equipadas com o indispensável, sobretudo em recursos humanos responsáveis? Sendo Portugal um dos países da Europa onde o tempo de sol é dos mais longos parece que nem sempre temos sabido aproveitar tanto as potencialidades turísticas como o valor energético com que fomos bafejados. De facto, em muitas localidades marítimas ainda vivemos uma etapa bastante rudimentar ao nível de rentabilizar as bonitas paisagens, os recortes idílicos e, mesmo, sem fazer grande coisa por isso, a procura de inúmeros estrangeiros. Não basta dar areia, comida razoável e esperar que as pessoas gostem da nossa aparente amabilidade. É importante investir em sectores tradicionais inovando e encontrar outras vertentes de afirmação. Vemos como importantes: * Opções de natureza ecológica – descobrir conscientemente as belezas e harmonia entre terra/mar e pessoas. Não basta denunciar atentados à natureza é urgente equilibrar o uso que dela se faz, resguardando-a como a nossa casa comum, que devemos passar condigna aos vindouros. * Perspectivas religiosas – para além das festas religiosas (algumas delas roçando um bairrismo pouco salutar) é urgente encontrar formas de transmitir Deus a quem se abeira das águas, isto é, fazer uma pastoral do mar em linguagem apropriada e com simbologia adequada. * Dimensões etno-folclóricas – muito do que se pode comunicar com quem chega passa pela música, os trajes, os costumes e tradições, mais do que servir esses enlatados de festivais barulhentos, poluentes e tendencialmente amorais. A moda há-de passar e o que ficará será lixo a rodos, sem qualquer cuidado, excepto as fugazes luzes da ribalta esconsa... Turismo é mais do que sol, passeio e lazer. Defender o mar é mais do que salvaguardar as milhas de ‘zona económica exclusiva’. Assistência nas praias é mais do que socorro a náufragos. Pastoral do mar é mais do que procissões e romarias. Até quando adiaremos reflectir sobre esta nossa vocação marítima? É preciso unir sinergias em favor do bem comum e qualidade de vida ... no futuro. A. Sílvio Couto


Apostolado do Mar