Dossier

Igrejas para tempo e lugar de férias

Diogo Lino Pimentel
...

Diogo Lino Pimentel

É um facto, de há muito constatado, que as igrejas dos centros urbanos no Verão quase se esvaziam: encerram o ano das actividades pastorais (catequese, obras e organismos paroquiais, os ensaios do coro, etc.); as crianças estão em férias e o tempo pede praia, campo ou, para alguns, viagem.

Começa então um autêntico movimento migratório. Parques de campismo, hotéis ou pensões e segundas casas vão ser utilizados em pleno. Pequenos aglomerados vêem decuplicar a sua escassa população fixa com a chegada dos veraneantes ou a passagem dos turistas. A pastoral fica então quase reduzida à missa dominical, para assembleias rarefeitas nas paróquias da cidade, e sobrelotadas nas pequenas capelas e nas igrejas dos locais de veraneio. Nestas, grande parte das pessoas ficam à porta ou fora dela e outras em sequer tentam lá ir.

A melhoria das estradas e acessos, imposta pela crescente procura, facilitam uma utilização cada vez mais assídua dessas segundas casas ou das caravanas que se estacionam nos parques de campismo. Para além do Verão, são as férias de Natal, Carnaval e Páscoa, os fins de semana alargados pelas “pontes” ou mesmo os simples fins de semana sem “ponte”.

Turistas e veraneantes tornam-se então “migrantes” intermitentes, ou sazonais. E, nessa condição, correm o risco de se desenraizarem ou de se “desligarem” provisoriamente.

Creio que a pastoral de turismo deverá ter por objectivo manter a “religação”, ou seja, a religião desse “migrante” que até não toma consciência dessa sua condição. Deverá ser como uma espécie de serviço de acolhimento a emigrantes provisórios. Ainda por cima trata-se de emigrantes não só no sentido geográfico, mas principalmente no domínio da sua própria vivência, em que as pessoas tendem a fazer férias de si próprias, dos “irmãos” e, por consequência, também do próprio Pai.

Há pois que estruturar uma verdadeira pastoral de férias e de turismo. Como todas as actividades comunitárias e colectivas, também essa actividade pastoral irá exigir instalações próprias: um espaço de celebração, um espaço de silêncio e oração e um espaço de encontro e convívio. Eventualmente, pode até justificar-se alguma “variante litúrgica”, tal como se admite para algumas ocasiões ou contextos especiais, como seja, por exemplo, uma celebração de “bodas de ouro”. Será uma questão de sintonia com o momento vivido e com o enquadramento da celebração.

Neste caso, o momento é de férias e o contexto de corte com a rotina das habituais ocupações predominantes durante o ano. Raramente as igrejas e equipamentos locais se mostram capazes de acolherem essa enorme população flutuante.

Por outro lado, será insensato e pouco viável construir nesses locais novas igrejas dimensionadas para uma população que só ocasionalmente para lá converge.  Será no entanto possível e adequado recorrer a outro tipo de equipamentos, que poderemos designar por espaços polivalentes, capazes de servirem para reuniões de vários tipos, desde as assembleias eucarísticas às actividades festivas, passando pelas de simples convívio ou pelas culturais, incluindo concertos ou representações, promovidas pelos próprios veraneantes e diversos grupos etários.

Não se trataria propriamente de uma igreja ou de um “salão” mas de um simples recinto vedado, envolvendo uma pequena capela. A capela, com alguns anexos, serviria à população residente fixa, e abriria franca e facilmente para o dito recinto vedado. Este último, eventualmente e em parte tratado à maneira de anfiteatro, também parcialmente coberto por simples toldos ou por uma cobertura ligeira, poderia ser utilizado para missas campais, ou para as outras actividades que o planeamento pastoral ou a iniciativa dos fiéis viessem a promover. 

O altar poderá ser o mesmo, na capela ou no exterior. Os degraus próprios do esquema em anfiteatro, dispensarão bancos ou cadeiras no exterior. Quando muito poderão utilizar-se algumas almofadas que cada um recolha e depois devolva. Para os veraneantes, o espaço-capela será o local de recolhimento e oração que muitos não dispensarão. Alguma arborização envolvente, para além de dar sombra, contribuirá para o conveniente resguardo do espaço, em complemento do indispensável muro de vedação.

De qualquer modo, parece inadiável reflectir sobre esta realidade tão actual, e experimentar modos pastorais que não dependam ou que não se dirijam exclusivamente à estrutura territorial da paróquia residencial.

A pertença comunitária tende, em parte, a não ser essencialmente territorial. É bom que a situação de turista ou de veraneante não seja impeditiva da continuidade da pertença à comunidade e da participação nas manifestações que a realizam.

Em apoio e para melhor entendimento da ideia de possíveis equipamentos pastorais para zonas de turismo e vilegiatura, propõe-se um esquema gráfico à maneira de sugestão. É que, se é certo que o programa pastoral determina o equipamento, também pode acontecer que uma ideia de equipamento possa sugerir uma diferente atitude pastoral mais adequada a novas situações sociológicas.

Diogo Lino Pimentel, Julho 2003



Arte Sacra