Dossier

II Concílio do Vaticano: A intranquilidade nos padres conciliares sobre o celibato

Luís Filipe Santos
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A emoção provocada nos meios conciliares pela intervenção do Papa Paulo VI "interditando" o concílio de debater publicamente o celibato dos padres e pela publicação no jornal «Le Monde» do esquema de intervenção de monsenhor Koop, bispo de Lins (Brasil), deixou alguma intranquilidade nos padres conciliares.

Durante as sessões conciliares (1962-65), alguns temas provocaram discussões acesas entre os participantes na assembleia magna, realizada na Basílica de São Pedro, Vaticano. A emoção provocada nos meios conciliares pela intervenção do Papa Paulo VI “interditando” o concílio de debater publicamente o celibato dos padres e pela publicação no jornal «Le Monde» do esquema de intervenção de monsenhor Koop, bispo de Lins (Brasil), deixou alguma intranquilidade nos padres conciliares.

Na edição do «Jornal do Brasil» com data de 12 de outubro de 1965, com direito a chamada de primeira página, refere-se que «Papa veta casamento aos padres». No corpo da notícia do referido jornal, na página 8, refere-se que o bispo brasileiro de Lins, monsenhor Koop, “defende padres casados”. Por sua vez, Henri Fesquet, na obra «O Diário do Concílio – Volume III», página 195, salienta que o Santo Ofício e os bispos residentes estão submersos “pelas inúmeras dificuldades que põe em todo o lado a lei do celibato eclesiástico, com as infrações particularmente graves nos países latinos e também, diz-se, na Alemanha”. Esta situação é uma “ferida no flanco da Igreja que os bispos não invocam senão consternados”.

O jornalista francês refere também que é “flagrante que, para uma percentagem não insignificante de sacerdotes, o celibato é mais um fardo do que uma libertação”. E acrescenta: “E mesmo que ele seja, nestes casos, vencido heroicamente, não é, por força, uma ajuda para o apostolado”. Na sua análise, o colunista do jornal «Le Monde» realça que é razoável pensar que a Igreja se prepara para se “mostrar de futuro cada vez mais severa na escolha das vocações sacerdotais”, a fim de “evitar que se perpetuem situações delicadas como a que existe atualmente”.

O descontentamento é “grande” entre certos padres conciliares. Aliás, naqueles dias de outubro de 1965, as conversas entre os participantes no concílio, convocado pelo Papa XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, tinham como tema central a questão do celibato. Para Henri Fesquet, um “grande número de padres não parece suficientemente preparado para aceitar a ideia de um segundo clero constituído por homens casados”.

Por outro lado, era notória uma divisão draconiana do clero “entre as dioceses ricas e as dioceses pobres, entre as cristandades ricas e as cristandades pobres, parece impor-se”.

Isto pressupõe uma “reforma completa dos hábitos atuais que não poderá operar-se senão progressivamente”, escreveu Henri Fesquet, na obra «O Diário do Concílio – Volume III».

LFS



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