Dossier

II Concílio do Vaticano: A quebra de sigilo durante as sessões

Luís Filipe Santos
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Durante as IV sessões do II Concílio do Vaticano (1962-65) muitos bispos participantes nesta assembleia magna enviavam para as suas dioceses textos sobre os trabalhos que decorriam na Basílica de São Pedro.

Durante as IV sessões do II Concílio do Vaticano (1962-65) muitos bispos participantes nesta assembleia magna enviavam para as suas dioceses textos sobre os trabalhos que decorriam na Basílica de São Pedro.

O bispo da Beira (Moçambique), D. Sebastião Soares de Resende, (1906-67), foi um deles. Só o fez nas três primeiras sessões. “Não enviei este ano [1965], ao contrário do que fiz em todos os anos conciliares passados, para o Jornal da Beira cartas semanais sobre matérias debatidas em Concílio, porque o não podia fazer com dignidade devido a uma questão pendente que ficará histórica”, confessou ao Boletim de Informação Pastoral (BIP), nº 44-45, página 10.

Perante a questão se o clero e o laicado mais responsável daquela diocese ultramarina pode acompanhar com suficiente profundidade os trabalhos conciliares e aprender as grandes linhas de força que o II Concílio do Vaticano definiu para a renovação pastoral, D. Sebastião Soares de Resende sublinhou que as diretivas desta assembleia não chegavam aos vários territórios (incluindo os países da Europa) “por falta de uma informação completa, justa e profunda a respeito dos trabalhos conciliares”.

O concílio convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI criou um “novo método de ação”, diferente do de outros concílios, “o qual, vago e indeciso a princípio”, mas depois “concreto e definitivo, concorreu de forma evidente para melhorar sensivelmente a infraestrutura de serviços informativos”. E continua, o prelado nascido em Milheirós de Poiares (Diocese do Porto): “por um lado reduziu ao mínimo, a partir do meio do primeiro período conciliar, e em seguida anulou quase completamente o dever do sigilo sobre quanto se passava na aula conciliar e nas salas de estudo das comissões”.

A presença ativa de peritos, de auditores leigos de ambos os sexos, de párocos e de observadores de muitas confissões religiosas, em todos os atos oficiais do concílio, “consolidou e alargou imensamente a objetividade dos instrumentos noticiosos do concílio”, disse ao BIP.

Todavia, não obstante a nova orgânica conciliar, D. Sebastião Soares de Resende lamenta que as “grandes agências internacionais deem a conhecer ao mundo todo comunicados inexatos, incompletos e até insidiosos sobre assuntos tantas vezes de máxima importância, donde não pode resultar a verdade tal qual ela é”. Assim, à diocese da Beira chegaram, durante a última temporada conciliar, apenas as notícias da grande imprensa devido à “questão pendente que ficará histórica”.

LFS



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