Dossier

II Concílio do Vaticano: Alfredo Bruto da Costa «assinou» o Pacto das Catacumbas

Luís Filipe Santos
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O espírito do «Pacto das Catacumbas» guiou algumas das melhores iniciativas cristãs das últimas décadas e teve alguma - não tanto como se esperava - repercussão no universo católico. O texto assinado pelos cerca de 40 bispos nas catacumbas de Domitila (Itália-Roma) foi um guião de vida para Alfredo Bruto da Costa, falecido a 11 deste mês com 78 anos.

O espírito do «Pacto das Catacumbas» guiou algumas das melhores iniciativas cristãs das últimas décadas e teve alguma – não tanto como se esperava - repercussão no universo católico. O texto assinado pelos cerca de 40 bispos nas catacumbas de Domitila (Itália-Roma) foi um guião de vida para Alfredo Bruto da Costa, falecido a 11 deste mês com 78 anos.

O conteúdo deste documento, redigido e assinado por quarenta padres participantes no II Concílio do Vaticano, dia 16 de novembro de 1965, pouco antes da conclusão da assembleia magna, ficou cunhado na obra e na vivência do antigo ministro.

Renovar o compromisso assumido por toda a Igreja para transformar a vida humana e construir um mundo fundado na solidariedade e na justiça, a partir do evangelho dos pobres foi a linha condutora do antigo presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), engenheiro Alfredo Bruto da Costa. Para este estudioso da pobreza, a dignidade humana é a chave do evangelho.

O «Pacto das Catacumbas» pretendia ser um texto e um compromisso concreto que colocava os pobres no altar e nas prioridades da Igreja. Esse foi o estilo de vida do engenheiro Bruto da Costa. Na história, para além do seu exemplo de cidadania, fica o combatente contra a pobreza e a exclusão social. Numa entrevista, concedida a um jornal diário, em 2007, o antigo ministro e conselheiro de Estado dizia: “Discordo da frase «não dês o peixe, dá a cana». Se só deres o peixe, ele só comerá hoje. Se, além do peixe, deres a cana, ele comerá hoje o resto da vida. Não vale de nada dar a cana a alguém que está com tanta fome que não pode sequer levantar-se para chegar ao rio para pescar”.

Alfredo Bruto da Costa esteve associado aos maiores avanços nas políticas sociais das últimas décadas em Portugal. Para este doutorado em Sociologia, que fazia parte de um grupo de trabalho que delineou um roteiro para uma Estratégia Nacional de Erradicação da Pobreza (ENEP), o combate a este flagelo não pode ser feito de forma pontual e dispersa. Apelava a um compromisso duradoiro que desse consistência a uma ação que visasse “não apenas reduzir o sofrimento do pobre, o que é certamente necessário, mas também ajudá-lo a libertar-se da pobreza”.

Alfredo Bruto da Costa não esteve nas Catacumbas de Domitila, mas o texto assinado por aqueles padres conciliares, há cerca de cinco décadas, cunhou a vida deste cristão nascido em Goa (India).

LFS



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