Dossier

II Concílio do Vaticano: «As Folhas recolhidas» do padre Manuel Álvaro Madureira

Luís Filipe Santos
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No semanário «Voz Portucalense», o padre Álvaro Madureira escreveu que os cristãos "não são seres parados, à espera de quem lhes venha bater à porta: São anunciadores dinâmicos da palavra". No entanto, com o decorrer dos tempos, "com a instalação em bons lugares, com o acomodamento a situações criadas, amoleceram muitos, que somente conhecem a lei do menor esforço"

O II Concílio do Vaticano teve o seu encerramento em 1965, mas muitas reflexões emanadas desta assembleia magna (1962-65) já tinham sido projetadas por alguns membros da hierarquia da Igreja portuguesa. Um deles foi o padre Manuel Álvaro Madureira (1916-2009) distinto sacerdote da Diocese do Porto.

Este padre da diocese duriense – que lecionou no Seminário do Porto e foi diretor do jornal «Voz Portucalense» - ajudou a formar gerações de cristãos.

Naquele jornal da diocese, o padre Manuel Álvaro Madureira tinha uma rubrica intitulada «Folhas recolhidas». Num dos textos (10 janeiro de 1970), o referido sublinha que «Os animais possuem algumas qualidades superiores às dos homens. O olhar do lince é mais penetrante, a gazela mais veloz, o elefante mais forte… Qualidades físicas e outras que, por comodidade, podemos chamar morais.» Valores que a sociedade contemporânea vai esquecendo e que o articulista defendia, de forma acérrima, através da sua pena.

Para o padre Álvaro Madureira, as doutrinas ou sistemas, conjuntos de ideias ou aspirações, “só interessam ao homem se encarnarem”. Mesmo religiosamente, “há acentuada tendência, para a humanização de Deus”. “Mas encarnar é temporalizar-se”. Quando se fala de intemporalidade do cristianismo, entende-se “a capacidade de encarnar em todos os tempos, e não apenas num tempo, para morrer”. Segundo o sacerdote do Porto, destemporalizar é desencarnar, e desencarnar é inutilizar”.

Ordenado em 1939, este professor e prefeito do Seminário de Nossa Senhora da Conceição escreveu um comentário curioso sobre a figura de D. António Ferreira Gomes aquando das bodas de prata episcopais do «famoso bispo do Porto». Merecem ser transcritas e lidas refletidas: “O bispo do Porto foi muito discutido: maximizado por uns, minimizado por outros”. “Saudamos nele um bispo de vanguarda (tão necessária nesta terra de retaguardistas), dotado de invulgares qualidades de inteligência e cultura, persistente pregoeiro de altos valores humanos e cristãos, prestigiado e prestigiante chefe religioso desta gloriosa diocese”.

No mesmo semanário, o padre Álvaro Madureira escreveu que os cristãos “não são seres parados, à espera de quem lhes venha bater à porta: São anunciadores dinâmicos da palavra”. No entanto, com o decorrer dos tempos, “com a instalação em bons lugares, com o acomodamento a situações criadas, amoleceram muitos, que somente conhecem a lei do menor esforço”

Não foram estas as diretivas que o concílio convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI deixou à Igreja? O que mais se vê é acomodamento…

LFS



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