Dossier

II Concílio do Vaticano: Esforços para renovar os horizontes de cultura

Luís Filipe Santos
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«Um grande número de homens adere ao partido comunista, não por causa da sua doutrina filosófica, mas por desespero e razões de justiça social» disse o cardeal holandês, Bernard Jan Alfrink. Uma intervenção que ficou na história conciliar quando falou da atitude da igreja para com o comunismo.

Na terceira sessão do II Concílio do Vaticano (1962-65), os padres conciliares entraram em debates mais acalorados com os temas do diálogo entre a igreja e a cultura. Após o período do renascimento, desenvolveu-se uma civilização com laivos de laicismo que nem sempre foi compreendido pela Igreja.

A cultura é uma questão capital para o catolicismo e inúmeros foram os cristãos que se regozijaram com Paulo VI quando a colocou no “centro das suas preocupações” (In: Henri Fesquet; «O Diário do Concílio»; 2º Volume, Publicações Europa-América; Pág. 261). A intervenção do cardeal Lercaro, arcebispo de Bolonha (Itália), sobre esta temática foi particularmente notada. Quando abordou o célebre «esquema 13», o prelado italiano disse aos padres conciliares: “Este parágrafo sobre a cultura é o centro de todo o esquema 13 porque exprime a natureza das relações entre a Igreja e o mundo. Por outro lado, a Revelação pode auxiliar a investigação cultural e, inversamente, a cultura pode auxiliar a Igreja a aprofundar a sua mensagem”.

No seu discurso, o cardeal Lercaro sublinha que “não basta dizer que a Igreja estima a cultura e que confia no progresso científico, artístico e técnico”. E acrescenta: “A pobreza evangélica não é sinónimo de pobreza cultural. A Igreja deve fazer todos os esforços para renovar os horizontes de cultura”.

Ao olhar para o panorama dos seminários, o padre conciliar realça que a função da Igreja é ser presente à cultura como um fermento. Por isso pede uma reexaminação de “todo o ciclo do ensino nos seminários, que se tornou absolutamente inadequado. Sem esta mudança não será possível criar um diálogo em profundidade com o homem de hoje”.

No debate conciliar, ocorrido no mês de novembro de 1964, e mesma linha do cardeal Lercaro, o bispo coadjutor de Estrasburgo (França), monsenhor Elchinger, revelou que os valores da cultura “não parecem ser suficientemente tomados a sério pela Igreja. Uma opinião pública bastante abrangente considera que a Igreja católica, apesar dos serviços prestados outrora à cultura, dá hoje prova de espírito estreito neste campo”. A relação da Igreja com a cultura “é dominada por atitudes de medo, de reflexos apologéticos de defesa; que se instala à margem da ascensão cultural dos tempos modernos”. (In: Henri Fesquet; «O Diário do Concílio»; 2º Volume, Publicações Europa-América; Pág. 261).

Por sua vez, o cardeal holandês, Bernard Jan Alfrink, faz uma intervenção que ficou na história conciliar quando falou da atitude da igreja para com o comunismo. O arcebispo de Utreque salienta que “as ideias ateias e marxistas espalham-se por toda a parte” e que “são evidentemente incompatíveis com o cristianismo”. No entanto o cardeal holandês alerta para o “dever de caridade”. “Um grande número de homens adere ao partido comunista, não por causa da sua doutrina filosófica, mas por desespero e razões de justiça social”. 

LFS



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