Dossier

II Concílio do Vaticano: Mário Soares admirava Paulo VI e São Paulo

Luís Filipe Santos
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Apesar de se confessar agnóstico, Mário Soares admirava o Papa Paulo VI porque "deu força ao Concílio" e acreditava "no amor ao estilo de S. Paulo". Estas declarações do antigo Presidente da República, que faleceu a 07 de janeiro de 2017, foram feitas à Agência ECCLESIA em abril de 2009, no Hospital de São João, no Porto.

Apesar de se confessar agnóstico, Mário Soares admirava o Papa Paulo VI porque “deu força ao Concílio” e acreditava “no amor ao estilo de S. Paulo”. Estas declarações do antigo Presidente da República, que faleceu a 07 de janeiro de 2017, foram feitas à Agência ECCLESIA em abril de 2009, no Hospital de São João, no Porto.

 O antigo presidente da Comissão da Liberdade Religiosa centrava a sua esperança «na condição humana» porque “nunca” foi “tocado pela graça da fé» e explicou que “aqueles que têm a graça da fé têm um privilégio sobre os outros porque acreditam na outra vida. Isto dá força às pessoas”.

Mário Soares seguiu com atenção o II Concílio do Vaticano até porque fez parte da revista «Tempo e o Modo». A amizade com António Alçada Baptista, Gonçalo Ribeiro Telles, Sophia de Mello Breyner e Francisco Sousa Tavares marcou a relação de Mário Soares com o Centro Nacional de Cultura. Logo a partir de 1958, ano de início da aventura da Moraes, houve “a tomada de consciência da importância para a causa democrática dos católicos inconformistas”, lê-se no site do Centro Nacional de Cultura.

A candidatura de Humberto Delgado e a atitude crítica do Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, abriram novas perspetivas, para além da oposição tradicional. Mário Soares considerou desde cedo que havia de reforçar uma frente que lançasse as bases de um regime democrático aberto e pluralista, que prevenisse os erros da Primeira República.

Em 1963 a revista «O Tempo e o Modo» nasce de um compromisso cultural e político, que envolve o grupo de Alçada Baptista e João Bénard da Costa, Mário Soares, Francisco Salgado Zenha e a juventude representada por Jorge Sampaio. É um entendimento premonitório que se revelará, no domínio cultural, não sem vicissitudes, como fundamental na construção da democracia. E sabe-se hoje que muitos milicianos e jovens militares, que criariam o Movimento das Forças Armadas, eram assinantes ou leitores de «O Tempo e o Modo» e seguiam as atividades do Centro Nacional de Cultura, a começar pelo mais influente ideólogo do Movimento, Ernesto Melo Antunes.

Considerado um dos pais da democracia portuguesa, Mário Soares dizia com frequência que nunca foi tocado pela fé. Todavia, acompanhava a vida da Igreja. Tinha tertúlias com alguns membros do clero português – monsenhor Vítor Feytor Pinto, frei Bento Domingues, D. Januário Torgal Ferreira e padre Vítor Melícias – e eram frequentes os elogios que fazia ao Papa Francisco. Penso que apreciava a Igreja do «Pacto das Catacumbas».

LFS



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