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II Concílio do Vaticano: O cardeal Ottaviani foi vítima do seu cargo

Luís Filipe Santos
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"Todos o conhecem como o intransigente defensor da ortodoxia doutrinal; poucos sabem das suas virtudes de simplicidade e humildade que as classes pobres do Trastevere de Roma tanto apreciam", escreveu D. Francisco Rendeiro. Mas como o cargo "incomodava muita gente, o cardeal Ottaviani foi vítima do seu cargo", referiu.

Com II Concílio do Vaticano o nome de «Santo Ofício» foi alterado para Congregação da Doutrina da Fé. Um desejo de muitos padres conciliares a quem o Papa Paulo VI deu ouvidos e, através do «motu proprio» intitulado «Integrae Servandae», decide mudar, simultaneamente, o nome e os métodos do «Santo Ofício».

Numa visita a esta congregação feita pelo bispo de Coimbra, D. Francisco Rendeiro, em abril de 1968, o prelado reconhece que “a sua missão há-de ser sempre difícil”, pois lhe está confiada a vigilância sobre a doutrina da fé e sobre os costumes do povo cristão. O «Santo Ofício», na altura do II Concílio do Vaticano (1962-65), era presidido pelo cardeal Ottaviani. “Com este senhor deu-se um dos mais notáveis fenómenos de identificação da pessoa com o cargo”, escreveu D. Francisco Rendeiro num comentário publicado no «Correio de Coimbra».

De 23 de abril a 16 de julho de 1968, o prelado redigiu várias notas sobre uma visita a Roma (Itália) que deram origem ao opúsculo «Eu Fui a Pedro». No sexto comentário, D. Francisco Rendeiro recorda a sua visita à Congregação da Doutrina da Fé e a figura do cardeal Ottaviani. “Todos o conhecem como o intransigente defensor da ortodoxia doutrinal; poucos sabem das suas virtudes de simplicidade e humildade que as classes pobres do Trastevere de Roma tanto apreciam”, escreveu. Mas como o cargo “incomodava muita gente, o cardeal Ottaviani foi vítima do seu cargo”, referiu.

O bispo de Coimbra, um dos padres conciliares portugueses, quando esteve na referida congregação referiu que o atual prefeito era o cardeal jugoslavo, Franjo Seper. “Diz-se que Paulo VI o escolheu depois do último Sínodo dos Bispos, onde ele foi muito apreciado pelo extraordinário equilíbrio na exposição da doutrina e pela maneira como tem sabido conduzir as coisas da Igreja no seu atormentado país”.

Naquele mês de abril de 1968, o cardeal Seper ainda não tinha deixado a sua diocese. Quem estava a substituí-lo na congregação era o arcebispo Paul Philippe que pertencia à Ordem dos Pregadores (Dominicanos) tal como D. Francisco Rendeiro. “É de nacionalidade francesa, um homem simples, de doutrina segura e sobretudo com um admirável sentido prático da vida”, escreveu o bispo de Coimbra.

LFS



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