Dossier

II Concílio do Vaticano: O «completo silêncio» do cardeal Cerejeira

Luís Filipe Santos
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"Ao cair do pano sobre o palco de São Pedro sucedeu completo silêncio do nosso patriarca durante os primeiros meses. Como se o que se passara não merecesse uma palavra! Chocou-nos e causou-nos mal-estar" (Conferência do padre Luis Azevedo Mafra).

Logo após o encerramento do II Concílio do Vaticano (1962-1965), o anseio, sobretudo dos padres mais novos do Patriarcado de Lisboa, por um início rápido da renovação pastoral da Diocese de Lisboa esbarrou num completo silêncio do cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira.

Numas jornadas de atualização teológico-pastoral do clero, realizadas no Seminário dos Olivais, em janeiro de 1991, o padre Luis Azevedo Mafra falou sobre os «Aspetos da aplicação do concílio no Patriarcado» e sublinhou: “Ao cair do pano sobre o palco de São Pedro sucedeu completo silêncio do nosso patriarca durante os primeiros meses. Como se o que se passara não merecesse uma palavra! Chocou-nos e causou-nos mal-estar” (Conferência do padre Luis Azevedo Mafra).

Aos presentes, o referido sacerdote da diocese de Lisboa frisou que admitia “perfeitamente que sua eminência tivesse intenção de agir, mas fechou-se demasiado em si próprio, talvez, quem sabe, pela sua conhecida maneira de ser e de atuar, e é possível que também pelos seus muitos afazeres”.

Convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, esta assembleia magna, realizada na Basílica de São Pedro (Vaticano) de 1962 a 1965, não teve o impacto que muitos elementos do clero de Lisboa ansiavam. “Pareceu-nos, no entanto, que depois de acontecimento de tal monta, com tantas e tão grandes consequências para toda a Igreja e, portanto, também para o Patriarcado, deveria dizer algo, ao menos aos seus padres: sua impressão do concílio, intenções, uma certa partilha do seu espírito e preocupações de pastor. Não o terá percebido, porém, e nada nos comunicou”. (Palavras do padre Luis Azevedo Mafra).

Na partilha aos elementos do clero de Lisboa, o conferencista realça que não tinha “suficiente lembrança e ideia da situação pastoral do Patriarcado antes do Concílio” porque estava confinado a algum trabalho de coadjutor e com a juventude estudantil. A convivência com outros colegas, a partir de 1963, na residência de assistentes diocesanos da Ação Católica (AC), na rua da Bela Vista à Lapa (Lisboa) e o desenrolar do concílio é que o foram “aproximando mais da realidade e situação pastoral do Patriarcado”. Além das deficiências existentes ao nível pastoral, o padre Luis Mafra revelou que “um elevado número de padres” estava “insatisfeito e descontente” com a pastoral diocesana. O espírito renovador do concílio “neles produzia uma animação e despertava uma esperança notáveis”

LFS



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