Dossier

II Concílio do Vaticano: Os «Encontros do café» com açúcar conciliar

Luís Filipe Santos
...

Existia um grupo no Seminário de Almada (na altura fazia parte do Patriarcado de Lisboa) que se reunia nos denominados «Encontros de Café» para assimilar as normas emanadas do II Concílio do Vaticano. Um desses elementos era o padre Albino Cleto (mais tarde nomeado bispo auxiliar de Lisboa e, posteriormente, bispo de Coimbra).

Durante o período do II Concílio do Vaticano (1962-65), as novidades saídas da assembleia magna convocada pelo Papa João XXIII e continuada pelo Papa Paulo VI eram debatidas e refletidas em pequenos grupos porque a informação que chegava a Portugal era escassa.

Existia um grupo no Seminário de Almada (na altura fazia parte do Patriarcado de Lisboa) que se reunia nos denominados «Encontros de Café» para assimilar as normas emanadas do II Concílio do Vaticano. Um desses elementos era o padre Albino Cleto (mais tarde nomeado bispo auxiliar de Lisboa e, posteriormente, bispo de Coimbra).

Na obra «D. Albino Cleto – Memórias de uma vida plena» da autoria de José António Santos lê-se que durante o período conciliar a “vida do padre Albino vai decorrer muito por dinamismos gerados pelos trabalhos dos padres conciliares e pelas notícias que iam chegando de Roma”. O ainda padre Albino Cleto (nasceu em 1935 e faleceu em 2012) acompanha o II Concílio do Vaticano pela «Information Catholique Internationale», “revista católica progressista que inspirava cuidados à polícia política” (In: Inês Dentinho, «O bispo todo-o-terreno», Independente, 16 de janeiro de 1998).

No Seminário de Almada, o padre Albino Cleto integra a equipa de formadores, juntamente com outros sacerdotes, daquela instituição. E sob o pretexto da “oferta de um café, após o almoço, o padre António Jorge (também ele formador) passou a organizar encontros regulares no seu gabinete”. O padre António Jorge tinha contatos “com instâncias estrangeiras de documentação, durante o concílio e pós-concílio”, com o grupo da Moraes, António Alçada Baptista e João Bénard da Costa, que fizeram a revista «O Tempo e o Modo», a cooperativa «Pragma» e, fora do seminário, “integrava a equipa coordenadora de um jornal clandestino policopiado, o projeto editorial «Direito à Informação»” (Lê-se na obra de José António Santos, página 140).

De toda essa rede de contactos, o padre António Jorge recebia “notícias frescas, que disponibilizava nos encontros do café, o lugar onde se construía o ambiente propício à projeção e abertura a novos horizontes, que rasgavam outras perspetivas teológicas, sociais e políticas”.

Os momentos de café destes padres da equipa formadora do Seminário de Almada eram verdadeiras tertúlias teológico-pastorais, onde os participantes encontravam meios de reflexão mais profunda e partilhada. O fermento do II Concílio do Vaticano chegava timidamente, mas era um pilar reflexivo para os padres mais arrojados.

LFS



Concílio Vaticano II