Dossier

II Concílio do Vaticano: Os «inimigos» da «Mater Ecclesiae»

Luís Filipe Santos
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Em exagero de notícia sensacional, "não faltou quem falasse de padres em favor da SS. Virgem ou contra..." (Certa imprensa, em especial na Itália, referiu-se bastante a um grupo numeroso de padres conciliares que seriam «nemici della Madona»). A verdade, porém, é que toda a assembleia do II Concílio do Vaticano admitiu entrar em discussão.

Como é do conhecimento geral, o II Concílio do Vaticano (1962-65) teve e, ainda tem, em vista problemas de ordem pastoral. Tudo isso é condensado naquela expressão, feliz e inspirada, do Papa João XXIII: «aggiornamento della chiesa». Este «aggiornamento» exige que a igreja esteja a par dos problemas hodiernos, a fim de que, uma vez atualizada possa dar-lhes o seu contributo deveras indispensável.

Antes de mais, urge não olvidar que a questão marial teve “o condão de fazer vibrar intensamente todo o mundo”, dentro e fora da assembleia conciliar, já que estavam em jogo “os privilégios e honra daquela que é a nossa Mãe” (In: Revista Theologica; Volume I – Fascículo 2; Ano 1966, Página 155). Esse vibrar sentiu-se logo, desde que o Papa João XXIII anunciou a convocação desta assembleia magna. Em exagero de notícia sensacional, “não faltou quem falasse de padres em favor da SS. Virgem ou contra…” (Certa imprensa, em especial na Itália, referiu-se bastante a um grupo numeroso de padres conciliares que seriam «nemici della Madona»). A verdade, porém, é que toda a assembleia do II Concílio do Vaticano admitiu entrar em discussão.

Para isso muito concorreu a vontade expressa do Papa João XXIII, e também a de Paulo VI que, mostrou-se claro e categórico nestas ricas palavras dirigidas à Virgem; “Ó Maria, olha para a Igreja e olha para os membros mais responsáveis do Corpo Místico, reunidos em volta de Ti, para te reconhecerem e celebrarem como Mãe mística…” (Estas palavras pertencem à alocução do Papa pronunciada perante os padres conciliares no começo da 2ª sessão do II Concílio do Vaticano).

Surge então matéria para uma “controvérsia longa e… nada pacífica” (In: Revista Theologica; Volume I – Fascículo 2; Ano 1966). Tudo se resume nisto: deveriam as questões mariais ficar em esquema separado e independente, ou como capítulo do «De Ecclesia»? A resposta foi dada pelos moderadores do concílio ao comunicarem que a questão ia ser submetida ao sufrágio do plenário. Só este decidiria em definitivo. E decidiu pela tão escassa maioria de 17 votos que o «De Beata» fosse tratado como último capítulo do «De Ecclesia». Vitória sem qualquer glória, como diria o padre Yves Congar – e que nos veio mostrar a grande divisão existente, portas adentro do Concílio.

O título e doutrina da «Mater Ecclesiae» ficarão como uma das maiores glórias de Paulo VI. O Papa Montini fica nos anais da história como o Papa da «Mater Ecclesiae».

   



Concílio Vaticano II