Dossier

II Concílio do Vaticano: «Transferências» e novos bispos no episcopado português (II)

Luís Filipe Santos
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O trabalho comum do pastor e dos cristãos foi a nota teológica mais saliente das palavras proferidas por D. João Saraiva ao tomar posse, 13 de fevereiro de 1966, na Sé do Funchal (Madeira). "Quando um bispo entra numa diocese, todos desejam saber qual é o seu plano de ação e de trabalho. No meu caso, parece-me prematuro definir iniciativas ou esboçar orientações". Antes de definir os trabalhos pastorais, D. João Saraiva deseja "ver, observar e conhecer".

Após o encerramento do II Concílio do Vaticano (dezembro de 1965), num curto período de tempo (23 de janeiro a 28 de fevereiro de 1966) foi assinalado pelo fato de seis bispos portugueses terem tomado posse de seus novos cargos, o que pode ser interpretado como sintoma e esperança de renovação pastoral.

Para além dos bispos D. David de Sousa e D. Júlio Tavares Rebimbas sublinhados nos dois últimos números desta rubrica, a Diocese de Coimbra recebeu, a 06 de fevereiro de 1966, D. Francisco Rendeiro como bispo coadjutor; D. João Saraiva foi acolhido, 13 do mesmo mês, como bispo do Funchal; D. Manuel dos Santos Rocha aportou em Beja a 26 de fevereiro e, dois dias depois, D. António de Castro Xavier Monteiro foi recebido “festivamente” no Patriarcado de Lisboa como arcebispo de Mitilene e auxiliar do cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira.

Quando chegou à cidade do Mondego, D. Francisco Rendeiro referiu que “inesperadamente para mim, a Igreja põe termo à minha missão no Algarve e manda-me para Coimbra, nas circunstâncias que vós conheceis”. O prelado adianta ainda que aceitou “com simplicidade, sem olhar a considerandos de qualquer espécie que não fossem apenas este: é a Igreja que me manda servir noutra parte, é a vontade de Deus”. Foi desta forma que o bispo da Ordem dos Pregadores (Dominicanos) recebeu a nomeação para coadjutor de D. Ernesto Sena de Oliveira. (Boletim de Informação Pastoral – Ano VIII – Nº 46-47 – Página 59)

O novo bispo de Pax Julia (Beja), D. Manuel dos Santos Rocha deu entrada naquele território alentejano e colocou a tónica na paz. Depois de tecer largas considerações sobre a paz, formula, à maneira de conclusão, o seguinte ideário pastoral. “A diocese é do bispo e dos diocesanos; cresce ou diminui em vida cristã na medida em que a união do bispo com os diocesanos e destes com aquele se afirma na fé, na esperança e na caridade”. (Boletim de Informação Pastoral – Ano VIII – Nº 46-47 – Página 59)

O trabalho comum do pastor e dos cristãos foi a nota teológica mais saliente das palavras proferidas por D. João Saraiva ao tomar posse na Sé do Funchal (Madeira). “Quando um bispo entra numa diocese, todos desejam saber qual é o seu plano de ação e de trabalho. No meu caso, parece-me prematuro definir iniciativas ou esboçar orientações”. Antes de definir os trabalhos pastorais, D. João Saraiva deseja “ver, observar e conhecer”. O programa há de nascer da própria vida. Na parte final realça: “O concílio apela insistentemente para que todos os membros do Povo de Deus assumam as suas responsabilidades na vida da Igreja”.

LFS



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