Sensibilizar a Igreja e sociedade para a solidariedade com os Migrantes e Refugiados é o objectivo da 33ª Semana Nacional de Migrações, organizada pela Obra Católica Portuguesa de Migrações, de 8 a 14 de Agosto.
“O Diálogo Intercultural Fecunda uma Sociedade Integrada” – tema que anima a semana, em todas as dioceses portuguesas, inspira-se na mensagem do Papa, para o 91º Dia Mundial do Migrante e Refugiado.
O Papa propõe “ir além da tolerância”, rumo à descoberta do precioso que há no outro. Convida a enriquecer à custa do imigrante, na permuta intercultural biunívoca! (Re)Inventa estereótipos e preconceitos, donde emerge a marginalização, pelo desconhecimento ou conhecimento deturpado que exotiza o Outro. Fomenta o ensino e promoção da interculturalidade como antídoto da xenofobia e racismo.
A Peregrinação Internacional do Migrante e Refugiado é auge das celebrações, presidida pelo bispo brasileiro D. Laurindo Guizzardi, em Fátima. O bispo de Foz do Iguaçu, presidente do Departamento da Pastoral dos Brasileiros no Exterior, na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, deseja também encontrar-se “com representantes da Comunidade Brasileira, para uma troca de pontos de vista e um relance para o futuro”, na sua 3ª visita às Comunidades Brasileiras, em Portugal.
No contexto pastoral solicitará à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) um melhor acompanhamento à comunidade brasileira.
Do programa salienta-se:
- Visita ao Consulado Geral do Brasil, em Portugal;
- Reunião bilateral de avaliação entre as Comissões Episcopais da Mobilidade Humana, Secretariados Diocesanos da Pastoral de Migrações e agentes pastorais da comunidade brasileira em Portugal, passados 3 anos do I Encontro Ibérico dos Brasileiros no Exterior, em Lisboa;
- Visita ao Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME);
- Visita ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF);
- Conferência de Imprensa sobre a Semana Nacional das Migrações, Mensagem do Papa e Análise da Imigração Brasileira em Portugal e no Mundo; em conjunto com o novo Presidente da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana da CEP, D. António Vitalino Dantas - bispo de Beja.
O Brasil, revela-se o maior acolhedor da comunidade portuguesa no mundo e representa hoje a primeira comunidade imigrante em Portugal, razão que motiva o convite, num estreitar de condutas e experiências.
Em 100 anos (de 1850 e 1960), radicaram-se no Brasil 1 milhão e 700 mil portugueses. Conquanto, em Portugal, temos hoje 60 mil brasileiros regularizados, a somar aos 30 mil que aguardam o deferimento do processo e um número desconhecido de irregulares.
A fraternidade lusófona revela-se uma riqueza na troca de lições aprendidas entre o Portugal de experiência emigrante e o Brasil de tradição imigrante. Ensinar e aprender o acolher generoso e inteligente, a evangelização e o ecumenismo, a defesa dos direitos políticos, sociais e religiosos, as pedagogias de participação cívica e eclesial, através da consciência dos valores e deveres, são apenas alguns capítulos.
A 33ª Semana assiste à mudança de nome e de presidente da Comissão Episcopal de Migrações e Turismo. Baptizada de Comissão Episcopal da Mobilidade Humana reflecte características contemporâneas, numa atitude intercultural em desafio às leituras puramente sócio-económicas. É uma janela aberta à diversidade cultural e religiosa, que foca a atenção no horizonte da legislação nacional e internacional, onde se cruzam direitos e liberdades.
A mobilidade humana vive no silêncio dos migrantes, refugiados, marítimos, ciganos e turismo, excepto no Verão; entre excursões, romarias, festas para emigrantes, reuniões familiares, aldeias (re)habitadas e estatísticas de viação.
O conceito de migrante, nacionalidade e cidadania alargou na proporção das fronteiras. A universalidade da “migração alarga o conceito de pátria para além das fronteiras geográficas e políticas, fazendo do mundo a pátria de todos” (bispo João Baptista Scalabrini – 1839-1905 – pai dos migrantes). Paradoxalmente, os países precisam de mão de obra mas não ousam flexibilizar os freios repressivos e burocráticos da legislação.
Numa economia globalizada, a integração passa também pela dimensão cultural e religiosa. Portugal, de raiz judaico-cristã, funda o diálogo ecuménico no encontrar Deus no Outro. A imigração importou cristãos evangélicos e ortodoxos, que alicerçam hoje a (re)descoberta dos denominadores comuns, de um mesmo Deus. No coabitar do pluralismo religioso, também o Brasil é pioneiro e tem muito a ensinar.
A Igreja em Portugal, preocupada com a visão política e a inclusão social, religiosa e económica dos migrantes, fundou há 33 anos a Semana de Migrações. Uma forma de mobilização social e incentivo à partilha solidária de recursos financeiros, como suporte exclusivo da acção anual.
Cidália Calisto