Dossier

Japão: Um Natal romântico com frango frito

Pe. Marco Casquilho
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Padre Marco Casquilho, Sociedade Missionária da Boa Nova

Na Europa, América e África, o Natal é uma festa familiar, marcada por tonalidades cristãs. Na Ásia, onde predominam religiões como o budismo, confucionismo, islamismo e xintoísmo, o Natal é celebrado de modo distinto, com uma intensa vertente comercial.

No Japão, o dia 25 de dezembro não é feriado. A maior parte dos japoneses trabalha neste dia. O aniversário do nascimento de Jesus, não é pois celebrado pela maior parte dos japoneses. Apenas os cristãos japoneses o celebram. Ora, o número de cristãos japoneses não excede um por cento da população total do Japão. Também os cristãos japoneses, na sua grande maioria, trabalham nos dias 24 e 25 de dezembro. Por esta razão, as missas da vigília de Natal são celebradas geralmente pelas 18 ou 19 horas. Talvez a Arquidiocese de Nagasaki seja uma exceção e eventualmente se celebre, numa ou noutra paróquia, a tradicional Missa do Galo.

Não obstante, todos os japoneses celebram no dia 23 de dezembro, o aniversário do atual Imperador. Curiosamente a maior parte das pessoas desconhece que o primeiro nome de Sua Majestade é Akihito. Todos se referem a ele como o Imperador Heisei (que pode ser traduzido literalmente como regresso à paz). Esta celebração do aniversário do imperador é tão importante que ela marca o calendário financeiro do país. Cada vez que levantamos dinheiro numa caixa multibanco (ATM), a data colocada no recibo é uma referência à regência de Sua Majestade. Em vez de 2011 surge um 23. Esta datação corresponde ao período Heisei, que se iniciou em 1989, e marca o número de anos desde que o Tennou (o Imperador dos Céus) ascendeu ao trono imperial.

O Natal japonês não é pois um feriado nacional, uma festa familiar ou a comemoração do nascimento de Jesus. O Natal japonês é essencialmente comercial. Todas as grandes lojas, empresas e departamentos comerciais ostentam decorações natalícias. Algumas famílias cristãs e não-cristãs, eventualmente, montam, em suas casas, árvores de Natal. Os presépios talvez se restrinjam apenas às igrejas católicas.

Na tarde dos dias 24 e 25 de dezembro, milhares de pessoas, regressando do trabalho, aguardam pacientemente, em filas organizadas, a oportunidade para comprarem o bolo de Natal.

Desde 1970, após uma campanha bem sucedida da cadeia de fast-food, Kentucky Fried Chicken (KFC), tornou-se tradição comer frango frito no Natal. Algumas crianças japonesas passaram a acreditar que o autêntico Pai Natal é o Coronel Sanders, imagem comercial do KFC.

Nos meios de comunicação social nipónicos, o Natal é retratado como uma noite romântica. Por isso, muitos casais de namorados japoneses fazem reserva no restaurante. Os homens oferecem presentes às suas amadas. Habitualmente, elegem presentes engraçadinhos (kawaii), tais como peluches, flores, lenços, anéis... Existem também Hóteis do Amor (Love Hotel), cujos quartos e corredores ostentam símbolos natalícios e oferecem promoções nesta época.

É impossível estabelecer um paralelismo entre o Natal japonês e o Natal português, mesmo se nos restringirmos aos cristãos. Não há missa do galo, nem cepo de natal, nem bacalhau ou polvo na ceia de natal, nem fritos natalícios, nem canções de natal... Haverá provavelmente presentes natalícios, mas estes são apenas dados às crianças.

É impossível estabelecer um paralelismo entre o Natal japonês e o Natal ocidental, mesmo se nos restringirmos à dimensão comercial. Algumas mulheres ocidentais (americanas, inglesas, alemãs...), casadas com japoneses, quando tentam recriar nas suas casas um Natal perfeito (convidando a família do marido, montando uma belíssima árvore de natal, oferecendo uma consoada com comida e bebida em abundância, cantando canções natalícias à beira da lareira e incentivando a troca de presentes...) são olhadas com desconfiança e os seus esforços podem não recolher grandes aplausos. Na cultura japonesa não é hábito apresentar refeições numa quantidade que exceda o apetite dos convidados. Os japoneses não gostam de estragar comida ou bebida. Talvez mesmo oferecer peru não seja boa ideia, pois das poucas vezes que o comem é quando visitam a diversão Parque Jurássico no parque temático Universal Studio Japan (USJ) em Osaka. Quanto às canções de Natal o único modo de se obter participação dos convidados é recriar uma noite de Karaoke, com as letras das músicas exibidas num televisor em katakana. Relativamente aos presentes provavelmente todos acharão bastante estranho que se troquem presentes e talvez não os abram mesmo no momento da festa natalícia, mas nas suas próprias casas.

Padre Marco Casquilho, Sociedade Missionária da Boa Nova



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