Dossier

Jesus, a Igreja e os jovens

Elias Couto
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Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração – OUTUBRO

Que os jovens sigam Cristo, Caminho, Verdade e Vida, com entusiasmo generoso, e estejam prontos a dar testemunho d’Ele em todos os ambientes. 1. As coisas mais simples têm tendência a ser as mais complicadas – porque são as mais difíceis. Em relação a Deus, também – Ele é a suprema simplicidade, mas quanta complicação em torno d’Ele, pois a sua dificuldade para nós é evidente. A tentação maior é fazer um Deus à nossa imagem, que esteja ao nosso serviço e responda às nossas necessidades… Com Jesus Cristo, acontece algo semelhante. É fácil arranjar um Jesus «a gosto», geralmente, feito com as ideias mais simpáticas que cada um tem acerca d’Ele – não porque sejam, necessariamente, verdadeiras, mas porque dizem mais à sensibilidade pessoal. O resultado é quase sempre aquele «Cristo, sim Igreja não!» que fez moda nos anos pós-conciliares, mas continua presente na cabeça de muitos – para não dizer de todos, pois todos somos tentados do mesmo modo. 2. Para escapar a esta tentação, é preciso ouvir Jesus. Ouvi-Lo, antes de mais, na Escritura, de modo particular nos Evangelhos. Jesus não complica mas também não transige com facilidades. Tome-se como exemplo este diálogo com os apóstolos: Jesus diz-lhes que os vai deixar e afirma que eles sabem o caminho para O seguir; Tomé pergunta: «Como podemos saber o caminho, se não sabemos para onde vais?». E a resposta é: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 3-6). É simples, mas não é fácil: Jesus é o Caminho – ou seja, Ele é o único modo de passarmos das nossas ideias fáceis acerca de Deus à simplicidade de Deus, para nós tão difícil de entender; Ele é a Verdade – a verdade sobre Deus e sobre o homem, sem transigir com as nossas verdades de ocasião; Ele é a Vida – a vida que vale a pena viver, porque é verdadeiramente humana e, por isso, permanece para a eternidade de Deus. Não há transigência, nem sobre Si mesmo, nem sobre o modo de ser seu discípulo, nem sobre Deus. Por isso acrescenta: «Ninguém vai ao Pai senão por Mim». Ele é tudo o que Deus tem a dizer sobre Si mesmo, porque Ele é o Verbo (Palavra) de Deus. E se Deus já nos disse a sua Palavra, melhor, se o Deus-Palavra já habitou connosco e disse tudo o que tinha para nos dizer, então só iremos ao Pai levados por esta Palavra. Tudo o resto, por muito humano e interessante, nesta questão, é de menor importância. 3. Esta Palavra, porém, não resulta de uma iniciativa humana nem se recebe numa solidão egoísta. Pelo contrário, é dita numa comunidade, a Igreja – bonito nome, pois significa, entre outras coisas, «assembleia daqueles que foram chamados por Deus». Chamados para escutar e viver a sua Palavra, que é «Caminho, Verdade e Vida», única por meio da qual se pode «ir ao Pai». A comunidade eclesial é, pois, o meio concreto e eficaz para combater a tentação de inventar um Cristo segundo os gostos e desejos de cada um e criar um Deus à própria imagem e semelhança, o Deus das conveniências individuais. Esta comunidade, por sua vez, é também criticamente confrontada com a Palavra de Deus que lhe foi confiada e ela anuncia, para que, tanto quanto possível, resista à tentação de se anunciar a si própria em nome de Deus. 4. Na Igreja, todos têm lugar: crianças, jovens, adultos, idosos, cada um segundo a condição que lhe é própria, são chamados a seguir Jesus. Cada um merece uma atenção particular e uma pastoral adequada à sua condição. É o caso dos jovens – tema da Intenção do Santo Padre neste mês de Outubro. Pelas características, virtudes e dificuldades próprias da sua condição, exigem da Igreja uma atenção constante e um particular esforço de evangelização, que procure responder às esperanças e dificuldades da sua existência quotidiana. Em qualquer caso, esta atenção passa por um anúncio sem transigências de Cristo, Caminho, Verdade e Vida – não tanto um «Cristo jovem», que é sempre uma «construção ideológica», tendo em vista seduzir, mas antes o Cristo eclesial que acolhe os jovens e tem para eles uma exigente mensagem de esperança e compromisso. Outros caminhos acabarão por conduzir ao «espírito do mundo» que endeusa a juventude e lhe oferece o vazio de ídolos sem presente nem futuro, sedutores, sem dúvida, mas fonte de desilusão continuada. 5. Se a Igreja for capaz de apresentar aos jovens o Cristo simples, acolhedor, compreensivo, exigente e intransigente no essencial (que diz respeito à dignidade dos próprios jovens e de cada ser humano) – afinal, o Cristo dos Evangelhos e de sempre – não precisará de «inventar» nenhum «Cristo jovem», nem pretender ser uma «Igreja jovem com os jovens», para, ao jeito de uma campanha publicitária, lhes «vender» Cristo. Eles entenderão que Jesus Cristo está para lá das imagens feitas e dos truques publicitários, acolherão a alegria serena mas exigente do mesmo Jesus e serão capazes de O testemunhar em todos os ambientes. Elias Couto


João Paulo II