Homenagem dos Bispos do Brasil nos 25 anos de Pontificado
Em suas inúmeras viagens apostólicas, João Paulo II tem reservado sempre destacado espaço para que elas sejam também ocasião propícia para despertar no coração sobretudo dos jovens o desejo de se oferecerem generosamente a Deus na vivência autêntica de sua vocação cristã e ainda encorajando-os a assumir, com determinação e sem medo, alguma vocação de especial consagração, sobretudo a presbiteral, se a estas forem chamados.
Nos seus pronunciamentos frequentes sobre o tema, o Sucessor de Pedro, trata das vocações em seu sentido amplo, como vocação baptismal, vocação à santidade, vocação a construir uma nova civilização do amor, privilegiando a vocação presbiteral como indispensável à Igreja e como suscitadora e animadora das demais vocações sejam laicais, sejam religiosas, sejam missionárias.
Como resposta a este esforço, podemos observar que algumas vezes o jornal L´Osservatore Romano tem citado o testemunho de certos jovens que, durante os encontros que o Papa reserva para eles nas visitas às várias dioceses, quebraram toda hesitação e responderam ao chamado do Senhor, a partir da força das palavras e do testemunho de João Paulo II. São encorajadoras as estatísticas publicadas no L’Osservatore Romano de 19 de julho passado: de 1978 a 2001 as vocações ao sacerdócio passaram de 63.822 para 112.244 em todo o mundo. (L’OR n°29, p.4)
Destaquemos também as inúmeras alocuções do Santo Padre sobre o tema vocacional no decorrer destes 25 anos de pontificado, suas exortações aos sacerdotes na Quinta-Feira Santa, suas cartas ao Povo de Deus por ocasião do Domingo do Bom Pastor, dia mundial de oração pelas vocações e suas mensagens preparatórias para a celebração anual do Dia de Oração pela Santificação do Clero e ainda suas palavras sempre fortes sobre o Dia das Missões.
Sem dúvida, o ponto máximo de todo o seu vasto ensinamento no campo das vocações, se encontra na Exortação Apostólica Pós Sinodal, Pastores Dabo Vobis, sob a formação dos presbíteros, editada a 25 de março de 1992, onde podemos ler doutrina segura e animadora sobre os chamados de Deus, as respostas da pessoa humana, os desafios dos tempos atuais e a responsabilidade do Povo de Deus em relação aos ministérios, serviços e consagração de vida, a partir da vocação baptismal.
O Papa conhece bem as dificuldades que hoje impedem os jovens de aderir ao chamado e sobre isso acenou claramente na referida Exortação Apostólica Pós-Sinodal : É muito forte sobre os jovens o fascínio da chamada sociedade de consumo, que os torna submissos e prisioneiros de uma interpretação individualista, materialista e hedonista da existência humana. O bem-estar, entendido materialmente, tende a impor-se como único ideal de vida, um bem-estar que se obtém a qualquer preço: daqui, a recusa de tudo o que exige sacrifício e a renúncia a procurar e a viver os valores espirituais e religiosos”. (PDV n.8) . Mas estas considerações não tiram do Papa a esperança nos jovens os quais muitas vezes são chamados de futuro da Igreja e tem convicção de que elas não são capazes de cercear a força do bem, a acção de Deus no coração das pessoas.
A sua visão cristocêntrica da Igreja, do mundo e da história, levam-no também a levantar o seu olhar com realismo, mas também com fé e abertura para o futuro. Parecem-nos significativas estas palavras: Não ignoramos as dificuldades. Não são poucas nem pequenas. Mas, para vencê-las está a nossa esperança, a nossa fé no indefectível amor de Cristo. (PDV n.10).
A fé, porém, exige sempre a operosidade e o Papa exorta bispos, presbíteros, diáconos e leigos a assumirem caminhos corajosos na pastoral vocacional, lembrando a cada um as próprias responsabilidades. Põe ênfase na necessidade de rezar sempre, ininterruptamente, mais do que confiar apenas na multiplicidade de técnicas pastorais, pois o Bom Pastor nos mandou explicitamente rezar ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe (Mt. 9,38). Nesta oração, elevada ao Pai com fé e como súplica perene das comunidades eclesiais espalhadas no mundo, reside o coração da pastoral vocacional. Todos somos responsáveis pelas vocações e todos temos o dever de rezar para que o Senhor envie à Igreja homens e mulheres generosos, capazes de doarem-se inteira e perpetuamente ao serviço de Deus.
No parecer de João Paulo II, o ambiente propício para o desabrochar das vocações é a família cristã, igreja doméstica (LG n.11), na qual os filhos são encaminhados na fé e na oração e aprendem a amar aquela família mais ampla que é a comunidade eclesial, concretizada na vida paroquial. Esta deve saber pôr ao centro da sua acção pastoral o acompanhamento e o cuidado das pessoas chamadas à consagração, pois ela também é considerada pela Igreja como primeiro seminário (OT n.9). Deste modo, o sinal da maturidade da família e da comunidade paroquial é visível nos filhos que elas doam para o serviço da Igreja.
Como fiel observador dos sinais dos tempos, o Papa vê nos movimentos, nas associações e novas comunidades da actualidade, os quais ele considera novo sopro do Espírito Santo, um terreno fértil para o desabrochar das vocações, e a necessária e essencial comunhão destes com a Igreja local pode oferecer uma ajuda específica e qualitativa ao desenvolvimento orgânico da pastoral vocacional. Onde é oferecido um sério e exigente caminho que leva a uma autêntica maturidade cristã e humana, os jovens abrem-se com seriedade ao questionamento do projecto divino sobre a vida deles e respondem com generosidade ao chamado do Senhor.
Outro espaço qualitativo para o nascimento das vocações é representado pelo amplo mundo do voluntariado, no qual sempre mais jovens se envolvem gratuitamente no serviço aos pobres, aos marginalizados, aos excluídos, aos doentes e sofredores em geral. É o Papa mesmo que o revela na mensagem por ocasião da 40º Jornada Mundial de oração pelas Vocações: existe no coração de muitos jovens, uma natural disposição a abrir-se ao outro, sobretudo aos mais necessitados. Isso os torna generosos, capazes de empatia, dispostos a esquecerem de si mesmos para antepor o outro aos próprios interesses. E acrescenta: o serviço se torna então meio e mediação preciosa para alcançar uma melhor compreensão da própria vocação. A diakonia é verdadeiro e próprio itinerário pastoral vocacional.
Nesta mesma mensagem o Papa confia seu empenho pelas vocações à Mãe da Igreja e Estrela da nova evangelização, Maria, modelo de vocação e de resposta. Um fato do começo da sua vida explica o seu forte laço amoroso à Maria e talvez o início do seu próprio chamado. Recém-nascido, a mãe do pequeno Karol, abriu a janela da sua casa, situada à frente de uma pequena igreja dedicada à Virgem de Nazaré, oferecendo-lhe os primeiros choros do seu bebé, com o desejo de entregar nas suas mãos a vida do seu filho.
Ao celebrar os 25 anos de ministério petrino do nosso amado João de Deus, louvamos o encorajamento, a abertura, o realismo com que ensina os filhos da Igreja no seu olhar para o universo das vocações, capaz de vencer os obstáculos e semear sempre o optimismo que nasce da fé e da esperança. Sem nenhuma dúvida pode o actual sucessor de Pedro ser cognominado o Pastor das Vocações.
D. Gil António Moreira
Membro da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, da CNBB