Dossier

João Paulo II, um ano depois da sua morte

D. José Saraiva Martins
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Cardeal José Saraiva Martins

O Pontificado de João Paulo II foi um dom precioso que Deus deu à sua Igreja. Ainda ecoam nos nossos ouvidos as palavras por ele pronunciadas, naquele inesquecível 16 de Outubro de 1978, da varanda da Basílica de São Pedro: “Não tenhais medo. Abri as portas a Cristo”. Essas palavras, com que o Cardeal Wojtyla, apenas eleito Papa, se apresentou à Igreja e ao mundo como novo Sucessor de Pedro, contém já em raiz e iluminam todo o seu Pontificado. Foi um Pontificado extremamente intenso e fecundo, o do Papa “vindo de longe”. Desenvolveu uma incansável e eficaz acção pastoral a todos os níveis da Igreja e da sociedade do nosso tempo. As suas numerosas peregrinações apostólicas são uma das suas melhores expressões. No sulco de Paulo, também ele se pôs em caminho pelo mundo, para anunciar o Evangelho a todos os homens e a todos os povos. João Paulo II foi assim o primeiro Papa missionário da Igreja. Uma outra característica do Pontificado do Papa Wojtyla foi a sua proximidade com o homem de hoje. Na sua primeira encíclica programática, a Redemptor Hominis, afirmava ele que “o homem é o caminho da Igreja”. Em total sintonia com essa afirmação, João Paulo II, num mundo complexo e atribulado como o nosso, esteve sempre perto do homem, dos seus problemas, defendendo sempre, com grande vigor e coragem, em nome do Evangelho, a dignidade da pessoa humana, os seus direitos fundamentais e, portanto, sagrados e invioláveis. A ofensa feita ao homem é, e será sempre, uma ofensa feita a Deus seu Criador, que o fez à sua imagem e semelhança. Não se pode esquecer o que fez este Papa pela paz entre os homens e entre os povos. As suas mensagens anuais sobre a paz são outras tantas maravilhosas lições sobre esse precioso dom que Cristo, o Príncipe da Paz, veio trazer ao mundo. Também os seus frequentes e apaixonados apelos à paz, fundada na verdade, na justiça, no amor e no perdão, são outros tantos veementes apelos ao dever que todos têm de serem verdadeiros e convencidos construtores de paz. Por fim, como Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, gostaria de realçar do Pontificado de João Paulo II um outro elemento essencial: a santidade. Foi sem dúvida um tema chave do Magistério de João Paulo II. Valorizá-la, tanto a nível teológico como pastoral, foi sempre, desde o início do seu Pontificado, um dos pontos basilares do seu incansável ministério petrino. A santidade, lembrava frequentemente o Papa, pertence à própria natureza da Igreja, ao seu ADN, é um dos seus elementos constitutivos. A Igreja de Cristo é chamada a ser a “Igreja do avental” – para usar uma expressão de Mons. Antonino Bello – ou seja, da acção, do serviço pastoral aos irmãos, mas também, e ainda antes disso, é chamada a ser a “Igreja da santidade”. Toda a acção pastoral destina-se a promover a santidade. “Não hesito em afirmar – lê-se na Carta Apostólica “Novo Millennio Ineunte” – que a perspectiva, em que deve ser posta toda a dinâmica pastoral, é a da santidade (NMI, 37).” Eis, em síntese, o que foi o Pontificado de João Paulo II, falecido há um ano. Não se deve esquecer a sua preciosa herança. A Igreja e o mundo de hoje ainda precisam do seu testemunho profético, do seu ardor apostólico e do seu Magistério rico e fecundo. Cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos


João Paulo II