Dossier

Justiça social e empenho cristão

Agência Ecclesia
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Cardeal Renato Martino

O presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e Paz (CPJP), Cardeal Renato Martino, trouxe até Portugal uma mensagem de "ânimo", manifestando o seu apreço pela iniciativa das Semanas Sociais. "Esta é uma manifestação do empenho dos católicos por viver, em cada dia, o seu compromisso cristão", declarou à ECCLESIA. Para este membro da Cúria Romana, é fundamental que a este empenho se centre, também, "na vida social de cada país". O Cardeal Martino, que tem passado por vários países do mundo divulgando o Compêndio da Doutrina Social da Igreja, lembra que os católicos devem estar empenhados "na política e nas organizações sociais". Neste percurso, o referido Compêndio surge como "uma ajuda" para que os leigos se comprometam ainda mais, inspirando as pessoas a modificarem a sociedade, através do seu pensamento e da sua acção. "Falta, muitas vezes, uma empenho prático e incisivo, que ofereça uma marca católica à sociedade", prossegue. A propósito das Semanas Sociais, o Cardeal Renato Martino referiu que elas são "um instrumento muito importante que deve ser plenamente valorizado, para facilitar uma abordagem correcta dos numerosos problemas sociais, económicos e políticos que o nosso tempo propõe à consciência humana e para dar a esses problemas respostas culturais adequadas, inspiradas pelo Evangelho e pela Doutrina Social da Igreja". Sobre o tema da edição portuguesa de 2006, "Uma sociedade geradora de emprego", o presidente do CPJP frisa que a Igreja "não tem uma missão política", como sublinhou Bento XVI na sua primeira encíclica, mas tem a missão de animar "os leigos a actuar de forma cristã". Nesse sentido, o factor do trabalho apresenta-se com uma área central na construção de sociedades justas, destinando-se "ao enriquecimento de quem emprega e de quem trabalha". O Cardeal Martino lamenta a má distribuição da riqueza a nível mundial, alertando para os "perigos" da globalização. "O que tem de fazer o mundo rico? Tem de dar a possibilidade aos pobres de serem protagonistas do seu próprio desenvolvimento", conclui. Compromisso para a Igreja em Portugal As Semanas Sociais Portuguesas são um momento fundamental de reflexão e de formação da consciência cristã, fazendo jus a uma longa tradição com eco em vários países do mundo. Em Portugal, as Semanas Sociais tiveram uma primeira série entre 1940 e 1952, tendo sido retomada entre 1991 e 2001. Os temas abordados foram sempre ligados ao mundo do trabalho e da ordem social, em linha com a Doutrina Social da Igreja. As Semanas Sociais são, por isso, para a Igreja Católica, um momento essencial para criar "a possibilidade de repensar os problemas sociais", como explica à ECCLESIA D. António Marcelino, Bispo de Aveiro. A reflexão sobre o desemprego lançada pela Igreja Católica em Portugal, que teve o seu ponto culminante em Braga, não chega ao fim com o encerramento dos trabalhos das Semanas Sociais 2006. As apostas pastorais devem passar, no futuro, pelos problemas levantados durante os vários dias de trabalho. Apelando para que a iniciativa seja "tomada a sério", em especial por um "laicado responsável", D. António Marcelino sublinha que, iniciativas como estas, sirvam para mobilizar "gente que, nas dioceses, possam analisar os problemas e aí criar sinergias próprias, em ordem a um contributo para a resolução dos mesmos". A decisão de retomar as Semanas Sociais, após um interregno de alguns anos, resultou precisamente da vontade de "chegar às pessoas". O Bispo de Aveiro destaca o facto de, em 2006, a inscrição na iniciativa ter sido feita directamente e não através da escolha de cada diocese, esperando que isso não faça perder a dinâmica que se gerava nesses grupos diocesanos. "A ideia é fazer com que os temas debatidos aqui possam chegar a muito mais gente, através de iniciativas diocesanas. Os Congressos são momentos de passagem; a vida da Igreja ao serviço do mundo faz-se no dia a dia e é preciso encontrar estruturas que estimulem iniciativas de intervenção", aponta. D. António Carrilho, presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, refere, por seu turno, que esta causa do desemprego "é uma das grandes preocupações da Igreja", pelo sofrimento que traz a tantas famílias. "As Semanas Sociais procuram ser uma resposta, a partir da consciência que a Igreja tem de ser uma presença no mundo dos homens, em concreto, dando aos leigos a consciência da realidade e critérios para a acção", conclui.


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