Dossier

Lausperene de Lisboa: a adoração é a melhor parte

Maria Armanda Saint-Maurice
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“Saio como novo”, diz A., um jovem que passou a noite frente ao SS. Sacramento, no Lausperene de Lisboa, a funcionar na igreja de São Nicolau, desde 2004. M., universitária, é entusiasta: “É algo de indescritível. Depois de uma noite de adoração, sinto-me lavada por dentro”. T. é mãe de família e uma noite por semana fica diante de Jesus: “No dia seguinte estou aliviada”. Depois de uma adoração prolongada, ninguém fica na mesma. Algo muda na pessoa, imperceptivelmente. Um homem de grande responsabilidade na Igreja dizia-me: “Nosso Senhor esvazia-nos de nós próprios”. Daí, talvez, a sensação de liberdade recuperada que cada um formula a seu modo. O “peso” das preocupações, das dores, do cansaço do dia atenua-se na relação prolongada com aquele que disse “Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei” (Mt 11,28). Os adoradores parecem esponjas, semi-secas, que se postam diante do Santíssimo como perante um fio de água que incessantemente jorra sobre eles, tornando-os flexíveis, saciados, felizes. O fio de água é uma corrente de graça que vai de Jesus, presença real na Eucaristia, ao adorador a seus pés como Maria de Betânia, a que “escolheu a melhor parte” (Lc 10,42). A atracção que postava Maria aos pés de Jesus é a mesma atracção da adoração do SS. Sacramento. A mesma presença vivificante actua e, em muitos casos, se faz sentir. Ela proporciona uma experiência de Deus continuada, que constitui uma antecâmara da contemplação para o cristão e a cristã de base. Na Eucaristia está “todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo” (PO 5). A prática da adoração é uma forma continuada da “comunhão espiritual” que os santos bem conheciam. Mas não é só um prolongamento ou uma antecipação da comunhão eucarística. É uma forma que está por pensar teologicamente e, sobretudo, por viver em grande escala, de se postar na presença de Jesus, de auferir dos espantosos benefícios da sua presença divino-humana. Em grande escala foi a adoração nas J.M.J., em Colónia. Mas os bispos reunidos em Roma no Sínodo sentiram, também eles, necessidade de a fazer, duas vezes por dia. É Cristo quem faz a Igreja e, quando se faz adoração, descobre-se que não se pode viver senão sob a presença, realíssima, exaltante e sempre geradora de exultação, de Cristo vivo na Eucaristia. Maria Armanda Saint-Maurice


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