Dossier

Memórias do 70x7

Octávio Carmo
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Os testemunhos de quem viveu por dentro esta aventura televisiva

Gratidão Durante muitos anos o “70x7” fez parte da minha vida. Melhor dizendo, continua a fazer parte dela embora eu já não integre a actual equipa. Os programas que realizei pouco representam comparados com o que me foi dado receber: uma consciência mais viva do que é ser Igreja encarnada no mundo, os mistérios da vida, do sofrimento, da entrega e da solidariedade, a imensa beleza saída das mãos e do coração dos homens, a imensa beleza da criação. Estou ainda grato ao “70” por me ter proporcionado trabalhar em equipa, em ambiente de camaradagem, com gente de enorme qualidade humana e profissional. (Manuel Frazão) Uma escola Recordo experiências que nunca mais esquecerei porque palpei uma Igreja diferente daquela que estudei nos compêndios de Teologia e estava habituado a viver na cidade. Através da imagem e do som tentei colocar em casa das pessoas a «Igreja desconhecida». Percorri o país todo e vi as diferentes formas de anunciar Cristo: Ele está no mar com os pescadores, as crianças abandonadas esperam ansiosamente por Ele, as rugas dos idosos recordam um «Cristo Jovem», os toxicodependentes deixaram os deuses e encontram o Deus Verdadeiro e os agricultores observam a natureza como verdadeiros Franciscanos. Episódios marcantes e enriquecedores... O 70x7 foi uma escola e os professores foram aqueles (entrevistados) que transmitiram para «caixa mágica» a sua vivência eclesiológica. Nas entrevistas que fiz a muitos cristãos anónimos, eles ensinaram-se que é preciso sair das paredes da Igreja e ir à procura dos mais necessitados. Este programa e os elementos que constituíam a sua equipa proporcionaram-me uma consciência diferente do que é ser Igreja. (Luis Filipe Santos) Um sinal Há uma dinâmica que atravessa o mundo e preenche o quotidiano. É a mudança concretizada na revolução mediática. Um novo rasto “comunicacional” que todos envolve e aproxima. Num tempo em que as liberdades adquiridas se cruzam com a tentação do imobilismo, a Igreja vai navegando ainda ao sabor de uma certa incerteza. Mas há sinais que fazem a diferença e trilham novos caminhos. Um desses sinais é o 70x7. Um espaço da responsabilidade da Igreja Católica, mas de leitura plural. Durante quase uma década tive a oportunidade de partilhar no 70x7 a “mundivisão” de uma procura. Em liberdade. Porque há dimensões do “transcendente” que não se compadecem com proselitismo. Felicito a RTP e a Igreja Católica em Portugal por manterem a aposta neste espaço de inegável interesse público e grande importância cultural. Espero que o 70x7 continue a ser aquele horizonte aberto, onde a pessoa humana é o centro de todas as procuras. (Joaquim Franco) Gosto pela fronteira Passar pelo programa foi muito importante, como diácono e como padre, numa perspectiva muito aberta de Igreja no mundo, no espírito do Concílio Vaticano II. Um pouco à maneira da multiplicação do perdão, que Jesus afirmou com a expressão 70x7, isto gerou não 490, mas muitas mais sementes de vida que se procurou testemunhar, reflectir e aprofundar. A mim, particularmente, ficou-me o gosto pela fronteira, pelo diálogo com o mundo, deixando-nos interpelar pelas questões e aplicando o Evangelho à vida a partir da realidade das pessoas. Pe. Vítor Gonçalves No terreno O facto de este ser um programa já com 25 anos, num universo televisivo em que tudo muda e os programas se fazem em séries de vinte ou trinta, faz com que seja um orgulho trabalhar nele. Destaco no “70x7” o facto de estar ligado à Igreja Católica e ser um programa não de teólogos ou ideólogos da espiritualidade, mas um programa que trabalha no terreno e é o rosto visível na sociedade. (Imelda Monteiro) Um espaço diferente Foi uma experiência diferente trabalhar num programa que eu via em criança. A nível profissional, foi muito gratificante, porque os moldes do programa permitem aprofundar as coisas, não ficar à superfície: foi um desafio a nível de construção de imagem, de linguagem. A grande importância desta marca do programa é a de fugir à inconsequência de que muitas vezes o jornalismo televisivo sofre. É dos poucos espaços que existem para este tipo de abordagem. A nível pessoal, acabei por conhecer vários temas mais a fundo, num programa muito virado para toda a sociedade, vivi muitos acontecimentos por dentro e pude compreendê-los melhor do que se estivesse noutro espaço que não o “70x7”. (Filipe Messeder) Grande público Passar por este programa foi um experiência fantástica e hoje sinto que faz muito mais sentido ter este tipo de espaço, em termos de televisão pública, do que insistir em canais ou espaços privados da Igreja. O “70x7” permite oferecer ao grande público uma visão das coisas que se passam dentro da Igreja, do ponto de vista social e pastoral, numa linguagem perfeitamente acessível e dirigido a toda a gente. Estar por dentro do programa é muito estimulante, porque foi necessária a abertura a toda a parte técnica de como fazer um programa, visto que a minha formação é da área filosófica e estava a comunicar com um grupo de alunos e não com um país inteiro. O que lamento dessa altura era o horário em que o programa ia para o ar, dado que quando havia desporto e o “70x7” era empurrado para o meio-dia as audiências disparavam, o que mostrava que não era o conteúdo do programa que afastava os potenciais espectadores. (Alfreda Fonseca)


Programa 70x7