1. A Igreja em Itália fê-lo de 22 a 24 de Fevereiro, em Roma, para os missionários italianos da emigração; a Igreja em Portugal vai realizá-lo nos dias 29, 30 e 31 do corrente mês, na Casa Diocesana de Vilar, no Porto. Refiro-me ao 1º Encontro Mundial das Comunidades Portuguesas, convocado pela Comissão Episcopal de Migrações e Turismo e organizado pela OCPM e SDPM do Porto. Duas Igrejas latinas que, no contexto europeu, possuem as duas maiores diásporas europeias, e que de países de imigração que se tornaram nas últimas duas décadas, mantêm-se também como países tradicionais de emigração, no contexto hodierno das novas mobilidades humanas. Dois povos, duas “memórias” que caminham irmanadas pela mesma “condição de alma”...
O Encontro Mundial integra-se no Projecto trienal pastoral 2002-2005 que tem animado a acção da OCPM, designado por “Emigração: assumir o presente, preparar o futuro”, e encerra um ciclo de Encontros Regionais e Visitas Pastorais às Comunidades.
Pretende-se, através da reflexão sobre a Emigração, a partir das estruturas de participação, solidariedade e integração, atingir os seguintes objectivos: identificar as mudanças psico-sociais nas Comunidades Portuguesas, assumir sem complexos, a “memória sofrida” das Comunidades, decidir sobre novas formas de acompanhamento que levem a uma gradual integração social e eclesial, e, por fim, responsabilizar - de forma renovada e urgente - as estruturas da Igreja, em Portugal.
2. Numa Europa e Mundo, por um lado, em acelerada secularização e indiferença religiosa, e por outro, que tenta balbuciar novas formas de diálogo ecuménico e inter-religioso, os emigrantes, com os seus missionários, têm sido admiráveis percursores activos e silenciosos profetas de novas fraternidades e da aproximação entre povos marcados pela diversidade. Os portugueses são hoje estimados por muitas igrejas locais pois com a sua religiosidade popular, espírito comunitário e teimosia cultural e solidária, têm dinamizado e reavivado muitas das comunidades católicas onde fixaram residência. Eles são autênticos evange-lizadores e missionários leigos do anúncio do Reino da paz. E não me refiro apenas às célebres festas em honra de Nª. Sra. de Fátima, de Santo António de Lisboa ou dos Santos populares.
3. Do “Inquérito Prévio” enviado aos delegados e Conselhos Pastorais Portugueses desejamos ressaltar algumas questões para as quais os emigrantes e seus missionários lançam um urgente apelo. Destacamos apenas três, entre outras: a primeira prende-se com a imagem redutora que a Igreja, em Portugal, alimenta desde a década de oitenta sobre a Emigração, que leva a entender os cristãos portugueses, em geral, como encontrando-se em fase adiantada de integração, e portanto, não mais carentes do envio de sacerdotes, religiosas e leigos devidamente preparados e motivados para a missão. Esta atitude tem como causa o desconhecimento das mudanças em curso e como consequência o crescente desinvestimento de pessoal junto das Comunidades; a segunda questão, tem a ver com a insatisfação crescente e o desnorteamento por parte de missionários e leigos cristãos, diante dos recentes processos internos de reestruturação pastoral, por parte de Igrejas e de dioceses, sobretudo no centro da Europa, que prevêem o encerramento coercivo de Missões Católicas e a diminuição drástica do número de missionários - sacerdotes, religiosas e leigos - ao serviço dos migrantes.
No inquérito pede-se ponderação nas decisões, maior envolvimento bilateral da Igreja em Portugal, respeito pelas estruturas nacionais de coordenação e garantia da gradualidade e humanismo da integração; na terceira, apelam a que os bispos e sacerdotes das regiões de origem dos emigrantes, assim como os líderes de movimentos eclesiais e responsáveis de serviços de formação cristã e animação bíblica, visitem com maior assiduidade e, de maneira mais demorada, os seus “diocesanos” a residir e a celebrar a fé no estrangeiro. Pedem ainda ser incluídos como realidade humana, forma-tiva e missionária nos Planos Pastorais das paróquias e da diocese de onde tiveram que partir, que visitam anualmente e colaboram a nível de solidariedade ajudando com suas ofertas quando são procurados pelas estruturas da Igreja ou Município.
4. A Igreja tem sabido manter, desde há mais de 50 anos, uma presença dinâmica junto das Comunidades Portuguesas, mas carece ao início deste novo milénio, de uma actualização do seu olhar e acção pastoral, sobretudo, para “ir além das aparências” e procurar ver a magnifica oportunidade “providencial” que são os emigrantes e imigrantes para a missão, para a nova evangelização e revitalização de muitas paróquias e movimentos pelo mundo e também em Portugal.
Para os 4.862.093 portugueses que o Estado, através das estimativas mais recentes do Ministério dos Negócios Estrangeiros, regista como dispersos em 121 países, a Igreja em Portugal, através de laços de colaboração e acção directa da OCPM, mantém estruturas próprias em 22 nações dos 4 continentes. Sem contar os missionários e missionárias de outras nacionalidades, muitos lusófonos, a servir as Comunidades Católicas Portuguesas, a OCPM regista em 2005 os seguintes totais: 122 sacerdotes portugueses e luso-descendentes, 30 missionárias portuguesas, 22 diáconos permanentes portugueses e luso-descendentes e 68 assistentes pastorais leigos, dos quais 28 a tempo inteiro. São 242 os evange-lizadores que, mediante o serviço generoso e dedicado às Comunidades Portuguesas, trabalham para uma Igreja toda ela acolhedora na sua diaconia, toda ela católica e ecuménica na sua linguagem, e intercultural na sua caridade, comunhão e liturgia.
Por fim, o Encontro acontecerá sob a dimensão da fé e da gratidão. No dia 29, vamos fazer “memória solidária” com os missionários – religiosos e leigos – falecidos que serviram heroicamente as migrações onde a Missão os enviou; dia 30, vamos enaltecer o centenário da morte do beato João B. Scalabrini, apóstolo e padroeiro dos migrantes, autêntico percursor de uma pastoral para a mobilidade humana; por fim, vamos homenagear Aristides Sousa Mendes, ilustre diplomata português e cristão, que conciliou humanismo com desobediência civil, ao galgar a visão administrativa que, tantas vezes, nas migrações impede a dignidade e a paz.
Rui Pedro, CS
Dir. OCPM