Dossier

Missão social na Vida Consagrada

Pe. Manuel Barbosa
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Institutos ocupam-se socialmente, quer de todas as fases etárias, quer da área da marginalidade e exclusão social

"Hoje, os consagrados e as consagradas têm a tarefa de ser testemunhas da presença transfiguradora de Deus num mundo cada vez mais desnorteado e confuso, um mundo em que os matizes têm substituído as cores bem definidas e caracterizadoras. Ser capaz de contemplar este nosso tempo com o olhar da fé significa ser capaz de olhar o homem, o mundo e a história à luz de Cristo crucificado e ressuscitado…" Este recente desafio do Papa Bento XVI aos consagrados e consagradas para serem "testemunhas da presença transfiguradora de Deus no mundo" interpela-os quanto à sua inserção social, partilhando os anseios, as alegrias e as angústias dos homens e mulheres do nosso tempo. Esta atenção aos problemas sociais é parte integrante da identidade da Vida Consagrada. A CIRP (Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal) tem como um dos seus objectivos estatutários "estar atenta aos desafios da actualidade que interpelam a presença dos Religiosos e Religiosas no mundo como consagrados e consagradas e responder-lhes com sentido profético". Do mesmo modo, pela sua natureza específica, os Institutos Seculares têm essa preocupação social. A pastoral social acontece de modo quotidiano e estruturado: inúmeras obras sociais dos Institutos de Vida Consagrada que se ocupam socialmente, quer de todas as fases etárias, em particular as crianças e os idosos, quer da área da marginalidade e exclusão social; a existência de duas Comissões específicas da CIRP para as questões sociais (Justiça e Paz, Assistência às Vítimas do Tráfico de Seres Humanos); participação em campanhas em favor da paz, dos migrantes, das condições sociais de emprego e habitação, da procura de uma vida justa e digna. Também a nível europeu, a UCESM (União das Conferências Europeias dos Superiores Maiores), que agrupa cerca de 420.000 religiosos e religiosas de 26 países, tem num dos seus objectivos prioritários a atenção às questões sociais. Tem promovido e participado em campanhas em favor da paz, da justiça social, da dignidade da mulher e contra a sua exploração. Durante o Mundial de Futebol na Alemanha, empenhou-se, com outras organizações, em denunciar a situação de dezenas de mulheres traficadas e exploradas sexualmente. Em Novembro de 2006, participei, como representante da UCESM, nas Semanas Sociais da França, com 4000 participantes, que reflectiram sobre o que deve ser uma sociedade justa; foram abordadas questões nas quais a Vida Consagrada está inteiramente presente. Outros acontecimentos recentes da preocupação social dos consagrados e consagradas poderiam ser referidos. Por exemplo, decorreu em Lisboa, em Outubro de 2006, um encontro de formação promovido pela União Internacional das Superioras Gerais (UISG), em parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), sobre "Tráfico de Seres Humanos", dirigido a Religiosas dos Países Lusófonos. Fez-se o enquadramento geral da problemática, abordou-se a questão do tráfico humano (nomeadamente mulheres para a exploração sexual) no contexto dos países de origem, suas características, dimensão e padrões de exploração, fez-se a aproximação à nossa realidade concreta. Reflectiu-se igualmente sobre a resposta das Instituições, como as Nações Unidas e ONGs, e o papel das Organizações que se baseiam na fé. Em clima de muita partilha, usando várias dinâmicas metodológicas, o grupo de Religiosas que frequentou o curso foi aprofundando os temas que tocaram fundamentalmente na "tipologia" das mulheres traficadas, os riscos de saúde associados ao tráfico, a prevenção, a relação de ajuda e o processo de emancipação. Reflectiu-se ainda sobre a necessidade e oportunidade de um trabalho em rede, que inclua leigos e outras instituições a trabalhar no terreno, e a constituição de uma comissão específica para esta problemática. Poder-se-iam multiplicar exemplos. O importante é que a celebração deste Dia do Consagrado ajude a renovar a missão social como fazendo parte intrínseca da vocação à Vida Consagrada. Só assim, como apela novamente Bento XVI, "os consagrados e as consagradas são chamados a permanecer no mundo como sinal credível e luminoso do Evangelho e dos seus paradoxos, sem se conformar com a mentalidade deste século, mas transformando-se e renovando continuamente o próprio compromisso, para poder discernir a vontade de Deus, o que é bom, o que é do seu agrado, o que é perfeito". A CIRP, na sua tarefa de coordenação e dinamização dos vários Institutos e na sua atenção à dimensão social da sua missão, procura contribuir para dar resposta aos desafios e sinais dos tempos, colocados à Vida Consagrada em Portugal, em atitude de abertura à mudança, sempre na fidelidade ao Espírito de Jesus Cristo e na comunhão eclesial. Pe. Manuel Joaquim Gomes Barbosa, scj Presidente da CIRP


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