A aproximação do tempo de Natal faz disparar as mais diversas solicitações em prol de variadas causas, aproveitando uma maior predisposição geral para um olhar e um gesto que ajude os mais desfavorecidos, muitas vezes esquecidos ao longo do resto do ano.
São várias as instituições a fazer apelo à solidariedade, às relações familiares, algumas em proveito próprio e com claros intuitos comerciais, outras procurando recolher nesta altura do ano fundos e ajudas que lhes permitam desenvolver projectos de solidariedade e ajuda humanitária que se revelarão essenciais para as comunidade e as pessoas a que se destinam.
À medida que nos aproximamos da quadra festiva, intensificam-se as imagens e sons publicitários que associam estes dias a um determinado produto ou instituição. A "apropriação" do Natal pelo mundo do consumo é um desafio presente também para quem tem de lançar campanhas solidárias e fazer passar um nome e uma causa no meio da confusão de brinquedos para miúdos e graúdos que se multiplicam a cada minuto.
Mário Rui Silva, da HPP Euro RSCG, que já representou Portugal na categoria "Lions Direct" do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, admite que “a nossa obrigação é fazer com que as marcas vendam mais e o Natal é, de facto, um período importantíssimo do consumo”.
Este especialista fala do Natal como uma "marca" que só por si já tem um Share fantástico e não precisa de mais nada. Este tempo tem uma notoriedade incrível, ainda por cima acontece todos os anos na mesma altura, pelo que não é preciso grande trabalho para chamar a atenção.
“O lado positivo deste consumismo exagerado é, para mim, o chamar à atenção das pessoas para uma reflexão importante, que é a de estarmos despertos para as necessidades de muita gente”, afirma.
Os sentimentos que emergem por altura do Natal também podem ter um potencial "publicitário". A maior parte das vezes, por exemplo, os apelos são dirigidos à família, procurando sensibilizá-las numa altura em que se congregam e estão mais unidas.
Até do ponto de vista religioso, nota, há um aproveitamento do lado mais comercial, acho que são coisas que são algo indissociáveis. “A maior parte das campanhas são feitas nesta altura, as instituições de solidariedade aproveitam para procurar recolher donativos, sensibilizando as populações para fazer bem, porque esta é uma altura mais propícia para isso”, indica Mário Rui Silva.
O Natal consegue ser, assim, mais do que uma festa da luz como nunca foi, por causa das iluminações e decorações de ruas ou espaços comerciais. Em Emmaús - Comunidades em Caneças e no Porto – “de tanto celebrarmos Natal todos os dias possíveis até nos esquecemos de festejar tão pomposamente a data do Natal. Já não celebramos Natal com os ‘sem–abrigo’, pois temos abrigo para nós e para quem nos bate à porta”.
“Cada vez que acolhemos um novo Companheiro para nós é Natal”, refere António.
“Partilhamos o pão com aquele que aparece e com quem nos bate à porta. É a nossa forma de fazer Natal! Em 2008 e nos anos vindouros. De qualquer forma desejamos Paz e sempre Natal no coração de cada homem”, assegura.
E Jesus?
O actual contexto cultural, económico e social provoca um impacto com fenómenos a que o tempo litúrgico não estava habituado. De facto, antes da chegada do dia 30 de Novembro, I Domingo do Advento, o Natal já há muito começara nas ruas e montras decoradas, nos catálogos de compras, nos anúncios televisivos.
Se, como dizem os especialistas, o Natal faz parte de um conjunto de momentos salvíficos que a Igreja celebra ritualmente centrada em Cristo, o desafio das 4 semanas que o preparam directamente é retomar essa centralidade. O Advento quer oferecer aos fiéis e à sociedade uma oportunidade para reflectir sobre as riquezas de uma dimensão da vida de Cristo, a sua Encarnação, como momento fundamental na História da Salvação.
Tanto mais importante é este tempo de preparação litúrgica quanto mais gente está tão preocupada em preparar o Natal que não lhe dá atenção. O “tempo da esperança” pode então ser um grande testemunho cristão para o actual momento da sociedade: tempo de morte, de terror, de prescindir de direitos em nome da segurança.
O Advento de 2008 é mais uma oportunidade única para lembrar todos os homens que o Natal acontece mesmo quando eles não querem.