Dossier

O Homem, Deus e a cidade

Henrique Noronha de Galvão
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Dificilmente se poderia pensar melhor homenagem a Santo Agostinho do que um Congresso a culminar o Ano Agostiniano instituído pela Diocese de Leiria-Fátima, de que o Bispo de Hipona é Padroeiro, por ocasião da data do seu nascimento em 13 de Novembro de 354, há portanto 1650 anos. Nascido na encruzilhada de continentes, tradições e épocas históricas, o pensamento de Santo Agostinho continua a ser o que já foi no seu tempo e nunca deixou de ser nas épocas posteriores: um despertar constante para a atenção ao real e uma permanente proposta de novas formas de o pensar. Hoje ainda somos convidados a escutar esse seu apelo a descobrirmos novos horizontes no modo como nos situamos perante o mundo e o mistério da fé. O Homem, Deus e a Cidade vão-nos oferecer, durante o Congresso, perspectivas privilegiadas para olharmos essa síntese poderosa cuja lógica viva escapa sempre a qualquer tentativa estreita de sistematização. Mas é certo que nela Deus ocupa o centro, como Sol a cuja luz a pessoa humana se revela em toda a sua grandeza, e a cidade se constrói à imagem da comunhão trinitária divina. O segredo mais fundo é sempre o amor, a caritas, a dilectio – os termos sucedem-se na escrita do antigo professor de Retórica para nos imergir na profundidade do mistério, manifestação da bondade divina criadora que tudo leva à consumação da paz. Destaca-se nesta homenagem o pastor que, na passagem do sec. IV ao sec. V, fez do seu pensamento e da sua palavra um ministério que ilustrou não apenas o seu tempo mas toda a história que se lhe seguiu. Tornou-se deste modo um factor decisivo de civilização. Iluminando com o Evangelho o legado cultural da Antiguidade, foi um dos principais factores, senão o principal, da superação da grave crise provocada pelas invasões bárbaras. Será ele que presidirá à Alta Idade Média, inspirando o pensamento teológico, o ensino em geral, a própria instituição das universidades. Assim se ia formando aquilo a que hoje chamamos Europa. Recordá-lo é uma imposição do momento, quando se procura varrer da memória europeia as suas raízes cristãs. Propositadamente, numa Diocese que é de Leiria mas também de Fátima, se deixou para o final do Congresso, a coroá-lo, a contemplação à luz do pensamento agostiniano de Maria como Mãe da Igreja, e a apresentação da figura pastoral do bispo que, para além da sua própria Diocese, deixou à Igreja universal e de todos os tempos a luz da sua palavra e o estímulo do seu zelo pastoral. H. Noronha Galvão


Diocese de Leiria-Fátima