Dossier

O mar como força de apostolado

A. Silvio Couto
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A. Sílvio Couto

É um facto que setenta e cinco por cento das dioceses portuguesas têm por fronteira natural o mar – Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Leiria, Lisboa, Setúbal, Beja, Algarve, Madeira, Açores e Ordinariato Castrense (na vertente da marinha). No entanto pergunta-se: haverá uma pastoral de teor marítima, em que, tanto bispos como padres e leigos destas dioceses, terão uma perspectiva pastoral para quem está ligado ao mar? Estes podem ser pescadores, armadores, marinha mercante, desportistas, ligados à restauração, ao turismo, às actividades lúdicas, etc. Cada vez – quase na proporção inversa dos recursos marinhos – é maior a sensibilidade às questões relacionadas com o mar. Até tivemos, em Portugal, uma exposição mundial – recordam-se (?) – foi em 1998. De então para cá que foi feito mais sistematicamente pela pastoral do mar? Diga-se que o ‘Apostolado do mar’ teve na «Expo/98» um momento de refundação, pois foram unidos esforços, energias e meios para revitalizar os ‘Stella maris’, que nalgumas localidades estavam em processo de decrepitude. Com efeito, a procissão do ‘dia do pavilhão da Santa Sé’ deixou marcas e abriu perspectivas. O director nacional do ‘Apostolado do mar’, Padre Carlos Augusto Noronha, pároco de Buarcos, conseguiu aglutinar mais sacerdotes/párocos de zonas marítimas, tendo ganho nova dimensão o retiro anual (pela Quaresma) e o encontro de praias (em finais de Maio, princípios de Junho). Hoje são dez – Viana do Castelo, Caxinas, Buarcos, Nazaré, Peniche, Sesimbra, Setúbal (Anunciada e São Sebastião) e Fuzeta – as localidades marítimas, que regularmente se encontram para partilhar iniciativas, programar eventos comuns e, sobretudo, fazer uma caminhada com um objectivo comum: traduzir para os homens e mulheres do mar a mensagem do Evangelho. Para isso há um boletim quadrimestral – ‘Estrela do mar’ – onde é desenvolvido um tema, se dá uma troca de notícias entre todos e são lançados novos desafios a este sector pastoral. Na confluência do passado e em ordem ao futuro, vemos no presente os seguintes aspectos da pastoral do mar: * Aproveitar e purificar a religiosidade popular – As festas dos marítimos têm um cunho de grande religiosidade, que se for bem aproveitada poderá ser benéfica para evangelizar muitos dos homens e mulheres do mar que ‘só’ se lembram de Deus, de Nossa Senhora ou dos santos nas horas de aflição e por ocasião das suas festas. Há muito de religioso, mas com atenção, discernimento e audaz prudência poder-se-á fazer melhor do que deixar correr! * Evangelização de meio: dos pescadores para os pescadores – Muitos que estavam mais cristianizados estão a envelhecer, por isso, é urgente captar (também neste sector) os mais novos, em ordem a re-evangelizar muitas famílias. Com efeito, nota-se a necessidade de formar animadores de grupos nas várias localidades para viver, testemunhar e ajudar a viver a fé cristã entre os companheiros de trabalho. * Presença nos portos – A partir dos encontros europeus e mundiais sente-se o apelo a que o ‘Apostolado do mar’ deve estar nos portos, indo ao encontro dos que, mesmo que por breves horas, atracam. É linha de pensamento dos responsáveis, a partir da Santa Sé, revitalizar uma presença eclesial na marinha mercante. * Intervir profeticamente – Em ordem a aprofundar novas vertentes estão programadas para Novembro próximo umas jornadas do ‘Apostolado do mar’, versando as questões: quem somos, onde estamos, o que fazemos? Desta forma se pretende corresponder aos novos desafios, sabendo cada um dos intervenientes dar as razões da sua esperança. Tal como nos séculos passados, o mar continua a lançar provocações aos portugueses, particularmente àqueles que têm responsabilidade na Igreja e no mundo. Para quando a definição, pelas dioceses com mar, de linhas pastorais mais adequadas às exigências dos homens e mulheres do mar? Para quando uma reflexão mais atenta e interventora da família com ligações ao mar? Como aproveitar os sinais e/ou apetrechos marítimos para a celebração da liturgia em localidades marítimas? Acreditamos que há muito a aprender e a fazer... melhor! A. Sílvio Couto


Apostolado do Mar