Dossier

O missionário constrói o mundo novo

Pe. Armando Soares
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A "crise" vocacional na Igreja como aliás, em muitos sectores da população, deriva também da diminuição drástica da população jovem e da falta de valores que provém da laicização da sociedade e de um pensar democrático que reduz o valor das decisões e do proceder das pessoas ao número de votos ou ao "todos fazem assim", "todos dizem", "é moderno", "agora é assim". Há aqueles que ultrapassam todas as barreiras do bom senso ao dizerem que a Igreja católica está atrasada porque não "aceita" as modernidades de hoje como os movimentos gays, o preservativo, as uniões de facto, a eutanásia, o aborto, o prazer pelo prazer. Criou-se um mundo de confusão em que se esqueceu - porque é mais cómodo, embora angustiante, viver desse modo - porque se esqueceu que a ética e a moral não dependem de votos nem estão sujeitas à lei do que se tornou costume fazer. Muitas civilizações e sociedades através da história caíram no abismo e no pó da história porque puseram de parte as colunas do esforço e de luta que os elevaram ao seu apogeu. Estamos francamente num rápido declínio da civilização ocidental, quase só guardada pelo espaço anglo-americano (originários do mesmo espaço geográfico, perante a decadência imposta pelo racionalismo, pela maçonaria, pela ausência de Deus provenientes da revolução francesa e do domínio mundial do materialismo, através das multinacionais. Neste contexto é difícil falar ou fazer ouvir a voz sobre vocações à vida religiosa. O mesmo não acontece em países de Leste que viveram a vida cristã sob a alçada da perseguição e da dificuldade. No entanto, nossos Bispos, como aliás já outros sectores da Igreja Católica na Europa, vão apostar numa campanha de sensibilização vocacional. É certo que "Deus continuará a chamar e dará à sua Igreja em cada tempo os padres de que ela precisa", disse D. José Policarpo. E Deus cumpriu essa promessa. Os sacerdotes são um dom de Deus, dom de Deus mas compete à Igreja ajudar a identificar o chamamento, a entusiasmar na resposta e a confirmar a vocação. É preciso conciliar as dimensões perenes e imutáveis com as situações transitórias, pois o sacerdote deve adaptar-se no seu ministério a cada época e a cada ambiente de vida. Como escreveu João Paulo II: "Deus chama sempre os seus sacerdotes a partir de determinados contextos humanos eclesiais, com os quais estão inevitavelmente conutados e aos quais são mandados para o serviço do Evangelho de Cristo". O mundo de hoje, no seu concreto pode dificultar ou fechar até a possibilidade do chamamento de Deus. Sensibilizar sobretudo os/as jovens para as vocações de serviço na Igreja é o objectivo do "Serviço Nacional de Vocações". Tenhamos a certeza de que Deus chama os que amam, o testemunho dos sacerdotes é uma fonte de apelo, a entrega da vida ao serviço dos irmãos dá uma alegria incomparável, a disponibilidade para a missão gera força e fecundidade para viver a vida, a força poderosa de Deus na fraqueza do homem geram capacidade para vencer a "istoltícia" do mundo, a dimensão apaixonante do serviço às pessoas e à comunidade geram comunhão de amor, a solicitude pastoral por todos, mas de preferência pelos pobres e pelos doentes, o anúncio da Palavra, a organização da caridade e o crescimento na fé são uma experiência de vida única. Caríssimos jovens, deixai que o Espírito de Deus vos faça sentir toda a beleza da vocação missionária; sacerdotal ou consagrada, que vos dará como tarefa a construção dum mundo novo, numa civilização de amor. A Igreja conta convosco. P. Armando Soares


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