Dossier

O Papa João Paulo II e Timor-Leste

D. Carlos Ximenes Belo
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As memórias de D. Carlos Ximenes Belo

No dia 2 de Abril pelas 21.37 h. falecia no Vaticano Sua Santidade o Papa João Paulo II. Este Papa natural da Polonia terá sempre o seu nome ligado a Timor-Leste. De facto o Papa João Paulo II visitou Timor-Leste nodia 12 de Outubro de 1989.Nesse memorável dia,o Santa Padre esteve apenas quatro horas na capital timorense. Chegou ao aeroporto de Comoro, pelas 10.00 h, e regressou a Jakarta pelas 14.00 h . Nesse breve espaço de tempo, Sua Santidade benzeu a Catedral da Imaculada Conceição, em Vila Verde; falou aos Bispos e sacerdotes; rezou a Missa em Tacitolu para cerca de cem mil timorenses, provenientes de todas as partes de Timor e deixou palavras de esperança e de conforto aos Timorenses, que nessa ocasião ainda viviam sob o domínio da Indonésia. Com a sua breve visita a Dili, o Papa João Paulo II colocou no mapa mundial este pequeno País, cujo povo vinha vivendo anos de sofrimento e de opressão. Na homilia desse dia 12 de Outubro, apelou para o respeito pelos direitos da família , falou da concórdia, paz e amor, e apelou aos católicos timorenses para ser tornarem na Ásia, “ sal da terra e luz do mundo”. A nível eclesial, foi Ele quem dividiu a diocese de Dili, erigindo a nova Diocese de Baucau, em 1996. Foi ainda Ele quem nomeou pela primeira vez, na história religiosa de Timor-Leste, bispos nativos, nas pessoas de Mons. Carlos Filipe Ximenes Belo (1988), Mons. Basílio do Nascimento ( 1997) e Mons. Alberto Ricardo da Silva (2004). No ano de 1991, aquando do massacre de centenas de jovens que se manifestavam pacificamente, no Cemitério de Santa Cruz, em Dili, o Papa, na sua solicitude paternal para com o Povo Timorense, enviou um representante na pessoa do Arcebispo Giovanni de Andrea, para ver a situação in loco, e dirigiu palavras de conforto ás famílias das vítimas. No ano 1999, durante os acontecimentos do famoso Setembro negro, Sua Santidade enviou uma carta de apoio e de solidariedade aos dois Administradores Apostólicos de Baucau e de Dili,e no dia 13 de Setembro, recebia na sua residência de verão, em Castel Gandolfo, o então Administrador Apostólico de Dili, que lhe lhe solicitava uma intervenção junto dos Estados Unidos da America e das Nações Unidas , com a finalidade de enviar uma força internacional de paz a Timor-Leste para proteger as populações indefesas. No dia das celebrações da independência de Timor-Leste, a 20 de Maio de 2002 ,enviou um representante especial na pessoa do então Arcebispo , e hoje cardeal Renato Martini, para presidir à Eucaristia em Tacitolu. A propósito da Independência o Santo Padre mandaria uma mensagem belíssima aos dois Administradores Apostólicos, às Autoridades e ao povo do novo País. Em 2003, deu o seu beneplácito ao inínico da relações diplomáticas entre a Santa Sé (Estado do Vaticano) e a República Democrática de Timor-Leste, enviando para Díli, o primeiro Nuncio Apostólico, na pessoa do Arcebispo Renzo Fratini (26 de Junho de 2003). Finalmente, como último acto importante, nomeou Bispo de Dili o Monsenhor Alberto Ricardo da Silva (Março de 2004). É dever de todos os timorenses manifestarem sentimentos de gratidão ao Papa João Paulo II. Não sabemos se haverá outra ocasião para um novo Papa visitar Timor-Leste, nos próximos tempos. Para já, o Papa João Paulo II, um Papa “vindo de longe” teve um papel preponderante no apelo à defesa e preservação da identidade religiosa, étnica, cultural e histórica do Povo Timorense. Nós os Timorenses, e particularmente os Católicos, vamos elevar ao Senhor as nossas preces pelo descanso eterno do Papa João Paulo II. Maputo, 5 de Abril de 2005, Dom Carlos Filipe Ximenes Belo


João Paulo II