Uma das figuras que mais contribuíram para o culto do Beato Nuno Alvares Pereira, durante os primeiros anos da República em Portugal, foi o Pe. Manuel Nunes Formigão, mais conhecido pelas suas relações com os pastorinhos de Fátima.
O Pe. Formigão chegou a Santarém, no ano lectivo de 1909-10, numa fase crítica da vida política nacional. No ano anterior, tinha ocorrido o regicídio e no ano seguinte seria proclamada a Republica. Com o seu cenário jacobino e anti-eclesial, o regime republicano “invadiu” também a cidade de Santarém, onde o jovem professor do Seminário pôde testemunhar esbulhos, profanações e perseguições. Entretanto, milhares de soldados portugueses foram enviados para as frentes de batalha numa guerra feroz que dizimava a Europa entre 1914 e 1918.
Tendo como fundo este quadro negro e ameaçador, o P. Formigão passou a intervir positivamente mediante uma acção discreta e real junto dos jovens estudantes da cidade. Nomeado professor do Liceu Sá da Bandeira em 1917, função que desempenhou até 1929, aproveitou essa situação para ajudar os estudantes na sua formação, envolvendo-os em actividades apostólicas, com a mira de salvaguardar a identidade portuguesa, inseparável da sua matriz cristã.
Com esse objectivo fundou a Associação Nun’Álvares, congregando um núcleo de jovens que tomou como patrono e como modelo a figura do Condestável, Herói e Santo nacional. Retomando o culto do Santo Condestável, o Pe. Formigão estava a indicar à juventude o caminho a seguir, precisamente numa época muito crítica para o País e para a Igreja. A grande figura de Nuno Álvares Pereira emergia como uma esperança para Portugal, reunindo os católicos à volta daquele que significava simultaneamente a defesa da Pátria e da Igreja.
Entre as diversas actividades, a Associação proporcionava ao grupo aulas de música, de dicção, serões de arte, conferências, palestras, recitações, passeios. O Pe. Formigão compôs o hino da Associação e inspirou a sua artística bandeira. Com um grupo de teatro, ensaiou e representou a peça “O sonho do Condestável”. Para manter o contacto entre os membros, fundou um órgão de comunicação, ao qual foi dado o título de “Herói e Santo”, o qual teve pouca duração. Por outro lado, em 1922, um grupo de antigos alunos de Santarém fundava em Lisboa uma revista quinzenal – “Cruzada Nacional Nun’Álvares – de que saíram poucos números.
E perante a pobreza e a miséria, agravada com o surto epidémico da pneumónica, em 1918, despertou os jovens para a caridade cristã, envolvendo-os em peditórios e ajudas, numa acção de tal modo notória que mereceu o reconhecimento das autoridades citadinas.
A Associação, cujos Estatutos datam de 26 de Março de 1917, foi comparada ao CADC de Coimbra e, de algum modo, vista como precursora do movimento da Acção Católica. Numa época muito crítica para o país, o Pe. Formigão deu substância e ânimo a esse movimento que indicava a figura do “Santo Condestável” como modelo a seguir. Como coroa desse movimento, pouco depois, Nun’Álvares seria elevado às honras dos altares pelo Papa Bento XV, em 23 de Janeiro de 1918.
O facto foi objecto de solenes homenagens ao Santo Condestável em Santarém, de 13 a 16 de Junho desse ano, promovidas pela Associação. Por trás dos comunicados dos Cadetes de Nun’Álvares ao povo de Santarém está a pessoa do Pe. Formigão, assim como de todo o programa. Este incluía uma exposição de pintura, um congresso da juventude católica, diversos actos religiosos e um bodo para quinhentos pobres.
O mesmo se diga das homenagens ao Santo Condestável, que se seguiram em Novembro de 1920, onde um dos números era um jantar para cinquenta rapazes pobres, em Novembro de 1931 por ocasião do 5º centenário da sua morte
A. Pinto Cardoso, Postulador da Causa de canonização do Pe. Manuel Nunes Formigão