O Papa caminhou serenamente para a hora do adeus e o mundo acompanha-o com a sua solidariedade e oração, numa prova suprema da universalidade desta figura incontornável.
Nenhuma cara seria tão familiar, no conjunto dos cinco continentes, como a de este homem de branco que recebeu milhões de pessoas no Vaticano – seja em celebrações litúrgicas, seja em audiências públicas e privadas -, e foi ao encontro delas, nos seus países, nas suas 103 viagens fora da Itália.
Milhares de milhões habituaram-se, por outro lado, à sua presença nos meios de comunicação social e é através dos media, agora, que acompanham o desenrolar do estado de saúde do Papa. Mais do que nunca, João Paulo II parece ser um familiar de homens e mulheres de todo o mundo, que assistem ao agravamento das suas condições.
A mudança na relação entre o Papa e os Media ficou bem visível nos últimos dias, com o Vaticano a assumir que “não queria esconder nada” em relação aos dias finais de João Paulo II.
A verdade é que no Pontificado de João Paulo II se modernizou significativamente o funcionamento da Sala de Imprensa, trazendo para a sua actividade um nível de profissionalismo que foi reconhecido por todos os jornalistas do meio.
Esta revolução na forma de comunicar da Santa Sé passou por uma maior agilização na transmissão das notícias, o que acabou por originar uma presença mediática universal como a Igreja nunca tinha tido antes.
A Santa Sé remodelou o espaço reservado pelo Vaticano aos jornalistas, criou uma agência de notícias da Santa Sé (Vatican Information Service) e deu um grande impulso à página Web do Vaticano, hoje por hoje uma das que tem maior número de visitas no mundo.
João Paulo II nunca teve medo dos jornalistas e fica para a história o facto de o seu último documento oficial ser a Carta Apostólica “O Rápido Desenvolvimento”, dirigida aos responsáveis pelas comunicações sociais. Nela, o Papa desafiava mesmo a Igreja Católica a apostar na área das Comunicações Sociais e pede aos católicos “um diálogo construtivo para promover na comunidade cristã uma opinião pública informada e capaz de discernimento”.
O Papa assumiu que os meios de comunicação ganharam uma tal importância que são, para muitos, “o principal instrumento orientador para os comportamentos individuais, familiares e sociais” e não se escondeu deles. Logo no dia 21 de Outubro de 1978, menos de uma semana depois de ter sido eleito, recebeu os jornalistas numa conferência de imprensa notável: durante uma hora, fugindo a todas as regras, ficou a conversar com eles, respondendo-lhes na sua língua.
Nunca nenhum Papa tinha concedido uma entrevista no século XX, João Paulo II deu várias à imprensa escrita e falava sempre com os jornalistas que acompanhavam os seus voos, durante as viagens apostólicas.
João Paulo II teve sempre em conta a globalização da Comunicação e dela se serviu para melhor passar a sua mensagem. E como homenagem pelo trabalho que realizavam, convidou em 2002 uma série de 14 jornalistas, entre os quais a portuguesa Aura Miguel, para escreverem as meditações da Via-Sacra de Sexta-feira Santa no Coliseu de Roma.
O Papa nunca viu nos jornalistas uma ameaça ou inimigos a abater. Afinal, como tantos outros profissionais, eles também faziam parte da Igreja.
Meios de comunicação de todo o mundo acompanharam, em directo, os últimos momentos de João Paulo II e a monumental despedida de peregrinos dos cinco continentes. A modernização contínua e crescente das tecnologias e os dos meios de comunicação foram sempre consideradas pelo Papa como uma oportunidade e a sua imagem é hoje em dia, sem nenhuma dúvida, de dimensão global.