Dossier

Os sonhos de paz de João Paulo II

Octávio Carmo
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O panorama internacional de guerras, conflitos e terrorismo em que o mundo viveu mergulhado durante 2003está na origem do grito de esperança lançado por João Paulo II para o ano que se aproxima: “a paz continua ainda possível. E, se é possível, então a paz é um dever!”. O Papa, que comemorou 25 anos de Pontificado, mostrou ao longo destes últimos meses a clara intenção de deixar como herança espiritual para a humanidade a certeza de que um mundo em paz e harmonia é possível. A sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2004 dirige-se especialmente aos homens e mulheres tentados a recorrer “ao inadmissível instrumento do terrorismo”, pedindo a todos, desde os políticos aos homens da cultura, para abraçarem a causa da paz, “contribuindo para a realização deste bem primário e deste modo assegurando ao mundo uma era melhor de serena convivência e respeito mútuo”. Ao escolher a “educação para a paz” como tema de fundo para a mensagem do Dia Mundial da Paz o Papa mostra-se, assim, firme na sua intenção de não abdicar da busca de soluções pacíficas e duradouras - daí falar em “era de paz” - para os conflitos que afligem todo o mundo, em especial o Médio Oriente. Ao longo de 2003 o Papa encontrou-se com cerca de 20 líderes políticos e falou em privado com mais de 300 bispos de todo o mundo, sem contar com os peregrinos, associações católicas, embaixadores e grupos inter-religiosos. A todos deixou, sempre, uma mensagem de paz como a que escolheu para iniciar 2004. A condenação explícita, neste texto, de “operações repressivas e punitivas”, numa referência ao recente conflito no Iraque, tem a ver com uma das grandes desilusões que este ano festivo teve para o Papa. O direito internacional não prevaleceu na acção militar contra o regime de Saddam Hussein, mas, ainda assim, deu a João Paulo II a oportunidade de sublinhar alguns princípios fundamentais que recupera nesta mensagem: “é essencial – diz o Papa - que o recurso necessário à força seja acompanhado por uma análise corajosa e lúcida das motivações subjacentes aos ataques terroristas.” A luta contra o terrorismo, sugere, “deve traduzir-se também no plano político e pedagógico: por um lado, removendo as causas que estão na origem de situações de injustiça; por outro, insistindo numa educação inspirada pelo respeito da vida humana em todas as circunstâncias.” Pedindo um novo “ordenamento internacional”, João Paulo II deixa na sua mensagem um apelo a todos os Estados para que promovam uma reforma, que torne a Organização das Nações Unidas capaz de funcionar eficazmente. A “chaga do terrorismo” destacada na mensagem é uma ameaça que, segundo João Paulo II, “nestes últimos anos ficou mais virulenta, produzindo cruéis massacres que têm tornado cada vez mais hirto de obstáculos o caminho do diálogo e das negociações, exacerbando os ânimos e agravando os problemas”. A humanidade que o Papa sonhou, nesta intervenção em favor da paz, tem uma nova oportunidade para que o direito internacional evite que prevaleça “a lei do mais forte”, um mundo onde a força das armas não seja maior do que a força do Direito. Fica o desafio. Octávio Carmo Agência Ecclesia


Dia Mundial da Paz