Dossier

Para ajudar a construir a cidade

António Marujo
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O actual modelo da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) aproxima-se mais daquilo que me parece ser mais adequado para a intervenção social e política dos cristãos, enquanto estrutura com mandato hierárquico. Até aqui, e praticamente desde a sua constituição, há duas décadas, tinha sido privilegiado modelo de uma comissão ao estilo parlamentar, que procurava representar diferentes sensibilidades políticas entre católicos, que tentava encontrar o mínimo denominador comum para as suas intervenções. Se havia a vantagem de ter um arco muito diversificado de opiniões, esse modelo tinha a limitação de ser mais lento e menos acutilante nas suas intervenções – o que não significa que não tenha havido documentos e intervenções importantes nos anteriores mandatos. Pelo contrário: foi talvez essa sedimentação do trabalho já feito e das suas limitações que permitiu chegar à formulação do actual modelo. Com a actual comissão, privilegiou-se um modelo que, respeitando a existência de diferentes opções, faz das questões sociais a prioridade da sua intervenção. É esse o modelo de várias comissões europeias e, mesmo, da comissão pontifícia, actuante em relação a questões como a habitação, o desarmamento, a reforma agrária ou a dívida externa do Terceiro Mundo, entre muitos outros temas. E, em Portugal, começa já a ver-se o fruto desta opção, com vários dos temas do fórum de 2003 ou das tomadas de posição sobre a guerra no Iraque. Este modelo de intervenção social e político é, aliás, desafio para todos os cristãos: a fé não pode alhear, ao contrário do que é hoje prática de muitos grupos no interior da Igreja, das questões de sociedade. Falta, para uma maior concretização do que pode ser um trabalho mais eficaz neste âmbito de intervenção, que o mandato da comissão nacional tenha a sua correspondência em comissões diocesanas vivas e actuantes. Até agora, e apesar de esforços vários dos anteriores responsáveis da CNJP, tal não passou de um desejo – com a honrosa excepção de uma ou duas dioceses. Comparando com outros países, também a dotação da comissão com mais meios materiais para o seu trabalho seria importante. A Conferência Episcopal, mas também outras estruturas e grupos de cristãos, terão uma palavra a dizer, de modo a que a comunidade eclesial tenha algo de substantivo a dizer na construção política da cidade. António Marujo Jornalista do “Públicoâ€


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