Dossier

Para memória futura!

A. Silvio Couto
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Temos ouvido esta frase – «para memória futura» -- nas notícias e nalgumas conversas, incidindo sobre uma facto colectivo nacional... Mas não é dessa teia jurídica ou moral a que nos reportamos. Para memória futura referimo-nos à bátega de chuva que, no último dia de Agosto, se abateu sobre a região de Lisboa e outros sítios. Como é costume – veja-se a volátil memória passada! – houve enxurradas, prejuízos, reclamações... Tudo sob a conformidade do tempo, embora a memória presente seja rebelde e pouco atenta. De facto para memória futura fica-nos a recordação duma intensa chuva, ruas inundadas, bombeiros em socorro e alguma surpresa das pessoas, usando o improviso, recorrendo ao descalçar-se e à apreensão. No fundo de tudo isto uma pergunta: como reagimos? Com efeito, são as coisas que nos apanham sem contarmos que servem de valorização da nossa – apesar de o referirmos no plural tem incidência no singular – jaez moral, índole espiritual ou estatura humana. Quantas vezes é no confronto com o imprevisto que nós sabemos as nossas reacções mais ou menos espontâneas, sabendo enquadrar o que nos contraria, obstaculiza ou cria engulhos; Quantas vezes é na vulnerabilidade da nossa conduta do dia a dia que percebemos aquilo a que damos importância, mas que afinal não passa de cenário desta vida passageira; Quantas vezes é no arrepio dos nossos objectivos – muitos deles egoístas, narcisistas ou idolátricos – com horizonte reduzido que somos (seremos) capazes de entender quão fútil pode ser a nossa existência... Para memória futura a chuva de final de Agosto serviu para nos irmanarmos com as agruras de outros (ao perto ou ao longe), dando mais atenção à solidariedade – essa condição humana de vida com outros, mesmo que sem relação directa – cristã, acrisolando-se rumo à caridade de vida. Crescer deixa marcas de comunhão... A. Sílvio Couto


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