Dossier

Permanentes ao Serviço do Reino

D. António Marcelino
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Visito-os regularmente, com a regularidade que a vida me permite. Apesar de tudo, sempre menos do que desejava. É um dever de fraterna gratidão, mas também uma graça que me permite saborear que é sempre mais o que se recebe, quando se dá ou se faz alguma coisa por amor. Encontro-os muitas vezes, como encontro os idosos e os doentes da sua idade: contas na mão, coração em Deus, pensamento fixo no último campo de apostolado. Em adoração e louvor, em súplica e acção de graças, pela forma que lhes é mais acessível para alimentar o zelo, a dedicação e a generosidade de uma vida rica de sentido. Alguns, a maioria, já nem podem celebrar a Eucaristia, nem rezar a Liturgia das Horas. Descobrem, por fim, que a Eucaristia e o breviário que nunca omitiam, é agora a aceitação serena da vontade do Pai, na experiência diária das suas limitações e na descoberta de capacidades e possibilidades que, apesar de tudo, persistem. São os nossos padres idosos e doentes, entregues ao cuidado de familiares ou de pessoas dedicadas, que a Diocese tem presentes de muitos modos e com especial apreço e gratidão. Estão, de pleno direito, no coração do Bispo e na partilha solidária do presbitério diocesano. Recordo quando os conheci, já lá vão mais de vinte anos, então saudáveis e a transbordar de zelo, de preocupações apostólicas, de vontade em pautar a sua vida pessoal e o seu dever pastoral pelas orientações da Igreja. Recordo-os, interessados em acertar o passo com o Concílio, lutando para darem testemunho e despertarem, pelos meios possíveis, para os caminhos do bem, os que faziam parte da sua responsabilidade diária. Chamam-se eles Albano, Alexandre, Albino, Alfredo, Messias, Manuel, este um nome que se repete várias vezes. Refiro-me agora somente àqueles que já só se vêem se os formos ver, pois outros, arrastando limitações visíveis, ainda se mostram, por vezes, eles mesmos no serviço do templo e do Reino, quando as ocasiões se proporcionam, a sua presença se torna útil e os achaques o vão permitindo. O padre, todo o padre, foi ordenado para ser padre toda a vida. Sem condições, nem descontos de generosidade. Sem que o determine o lugar onde é chamado a servir ou os trabalhos que lhe são pedidos. Sem que os elogios ou as incompreensões o tornem dependente. Nunca lhe são indiferentes as pessoas, porque delas se sente servidor. Nunca deixam de o tocar as dores da Igreja, porque dela se sente filho. Idoso ou doente, é sempre um servidor do Reino. O soldado da primeira fila não dispensa o da retaguarda. Os mais novos andam pelos caminhos que os mais velhos arrotearam. Os mais apostólicos serão sempre os que mais amam. Quem muito se deu, foi porque muito amou.


Diocese de Aveiro