Dossier

Popularidade de um culto

J. Pinharanda Gomes
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Os santos não se ocultam uns aos outros. As estrelas do firmamento, às quais os santos são comparáveis, têm cada uma o seu próprio raio de luz que se distingue entre as miríades de auréolas. De modo análogo, cada santo brilha no horizonte das nossas vidas, cada um deles propondo, ou um caminho, ou a morada, conforme os seus caracteres e dons inspiracionais. Santa Teresinha do Menino Jesus até reavivou, com sua presença, a magistral herança carmelita, desde a Ignea Sagitta a Teresa de Jesus e a João da Cruz, e abriu caminhos a outros espirituais da mesma família bastando por agora lembrar os nomes de Sor. Isabel da Santíssima Trindade e de Edith Stein (Sor Teresa Benedicta da Cruz). O Monte Carmelo, que em boa verdade é um heterónimo de Monte Santo Jesus Cristo, não tem estradas. Cada um que deseja subi-lo tem de sulcar, através das penedias e das espinhosas sarças a sua vereda. Cada um de nós pode imitar uma vereda anterior, cujos vestígios sejam sensíveis mas, no fim de contas, cada um abrirá o seu caminho. Como Teresa, em relação aos outros espirituais carmelitas. Na mensagem dos Bispos portugueses a propósito da peregrinação das Relíquias da venerável Irmã, e preparando o essencial - a evangelização, que entendemos como anúncio do Evangelho ao Mundo - sublinham eles, entre outros tópicos, a trilogia “pelo Amorâ€, “Ciência do Amor†e “Vida Sacramentalâ€. A trilogia basta para o entendimento do brilho estelar próprio de Teresinha no re-anúncio do Evangelho a uma conturbada e sofrente Europa que, sendo mater mundi, transmite a turbação e o sofrimento a todos os Continentes. Com Teresinha, pode reaver a paz de alma e a energia de missão. Ela, Teresinha, foi bem cedo visionada por um dos nossos mais capacitados escultores de imaginária - não nos ocorre se Amálio Maia, se Ferreira Thedim - como arauto do Evangelho, com o Evangelho erguido numa das mãos sendo representada. Talvez a popularidade do seu culto haja sofrido restrições, como aliás outros cultos santorais nos meados do vigésimo século, ainda que hoje em dia se verifique um revivalismo, que procura valorar a piedade popular mediante o baptismo em uma pastoral eclesialidade. Neste contexto, a Família Carmelita (e nela incluímos todos os ramos, sejam eles quais forem) terá certamente de reflectir acerca dos métodos e da intensidade a formular para levar Teresinha à Pastoral das Famílias, da Infância e da Juventude. Ao mesmo tempo, indagar de que modo ela pode continuar no coração da piedade popular, não obstante a necessária existência de uma devoção intelectualista que pode, eventualmente, não falar a língua do povo. Teresinha continua fonte inspiracional para a vida consagrada, e não temos dificuldades em admitir que, sendo ela uma pessoa do segundo milénio, o seu testemunho, ou o seu caminhinho sirva as exigências de quem, neste novo milénio, haja a vocação da vida consagrada. Por idênticos motivos, ela serve às vocações da vida laical, pois oferece todos os segredos da iniciação para ascender a Maria, por Ela a Jesus e, por Jesus, ao Pai. No quadro do anúncio da reevan-gelização de Portugal, ainda podemos escutar, sem preconceitos, o chamamento a Teresinha, usando a frase e as palavras de alguém na data da canonização: “Portugueses, que viveis enleados no labirinto dos baixos e efémeros interesses materiais, erguei (...) os corações ao Céu, numa prece, numa súplica gemente e sentida e clamai connosco: Santa Teresinha, derramai sobre Portugal a chuva fecundante das vossas rosasâ€. Josué Pinharanda Gomes


Santa Teresinha