D. Manuel Martins, Bispo emérito de Setúbal, lembra dramas antigos e diz que a crise actual «é de fazer doer a alma»
Ouço mais uma vez o que poderá vir a acontecer à Qimonda. Tenho ouvido todos os dias o que vem acontecendo a tantas e tantas empresas do nosso país. E vou ficando com a impressão de que Portugal está a perder vida, futuro e sonho. Com efeito, quantos lares haverá por aí já sem pão?
Já vivi afogado em muitos dramas destes em anos que não vão assim tão longe, e não posso esquecer tantas lágrimas choradas, tanto desespero experimentado, algumas mortes procuradas e também, graças a Deus muitas, tanto e tanto gesto de solidariedade no terreno.
Deixo agora de lado as culpas que carregam tantos hábeis e tantos inábeis (mais ou menos identificáveis uns e outros), nesta desesperante situação, para lançar dois desafios que me parecem importantes: o primeiro tem a ver com a esperança que é preciso não perder e que até será urgente gritar. Se a América – nós todos, afinal – se vier a salvar, o sucesso dever-se-á mais à esperança que dá pelo nome de Obama, do que aos feitos desse mesmo Obama…
O segundo desafio relaciona-se com a onda de solidariedade que se vem montando por todos os lados, de todas as cores e feitios e que não deixa de significar um hino de louvor aos nobres sentimentos das nossas boas gentes. Acrescento só que me parece que seria conveniente “domesticar” essa onda, procurando saber quanto possível, a quem ajudar e como ajudar.
É que pressinto que estes tantos gestos de solidariedade deveriam convergir, quanto possível, nas Comunidades, onde melhor se conhecem as situações. Já dizia o nosso santo Pai Américo que é a Comunidade que deve tomar conta dos seus pobres.
Tenho presente a condição que Jesus costumava pôr a quem mostrava desejo de O seguir ou a necessidade de uma graça especial: “Se quiseres…”. É o caso. Nós vamos vencer esta grave crise, porque todos queremos.
+M. da Silva Martins, Bispo
