Dossier

Portugal não conhece os seus religiosos

Octávio Carmo
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42% dos portugueses não têm conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica. Saiba quantos são e o que fazem

A Vida Religiosa tem hoje um papel diferente na Igreja e na sociedade e nem sempre essas mudanças a tornam mais visível. O “Inquérito sobre os religiosos em Portugal”, efectuado pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica Portuguesa mostra que 42% dos portugueses não têm conhecimento da existência de religiosos na Igreja Católica. O número não deixa de ser surpreendente, ainda para mais se atendermos a que o inquérito tem uma amostra significativa de 1530 entrevistas, correspondentes a 24 freguesias do Continente. Aliados a este desconhecimento parecem estar associados dois factores fundamentais: a posição religiosa actual e o grau de instrução dos inquiridos. De facto, com mais de 12% das pessoas a declararem-se sem religião, indiferentes, agnósticas ou ateias, é neste grupo que é percentualmente maior o desconhecimento do que sejam os religiosos na Igreja Católica (mais de 51%). Em relação ao grau de instrução, é entre as pessoas que nunca andaram na escola ou não concluíram o 4º ano (13,2%) que há mais respostas negativas sobre o conhecimento da existência dos religiosos: 52, 3% Nestas circunstâncias, apenas cerca de metade dos inquiridos seguiu para as questões que dizem respeito ao contacto e opiniões sobre os religiosos. Para quem a conhece, contudo, a Vida Religiosa é um valor fundamental na Igreja e mesmo na sociedade portuguesa. Assim, quase 94% dos inquiridos entende que o facto de existirem religiosos é uma coisa boa ou muito boa para a Igreja Católica, e 87,4% pensa que também é bom ou muito bom para os portugueses. Quem responde não fala de cor: quase metade dos que têm conhecimento da existência de religiosos refere que conhece ou conheceu pessoalmente 10 ou mais religiosos, e revelam mesmo que eles fazem parte do seu grupo de amigos, colegas ou vizinhos. O contacto com os religiosos e religiosas ocorre, preferencialmente, nas actividades das paróquias (mais de metade dos casos), mas com as religiosas ganha destaque o contacto nas escolas/colégios: 18,9% dos casos. Como reconhecer os religiosos? O ditado português diz que “o hábito não faz o monge” e o inquérito da UCP parece comprovar esta teoria: para os entrevistados, aquilo que faz com que religiosos sejam diferentes não é o hábito que usam. Aliás, este é um dos pontos do questionário que certamente deixará mais satisfeitos os Institutos Religiosos. Para os portugueses, o que distingue verdadeiramente os religiosos é a vida que escolheram, a maneira como vivem e o espírito que os anima. “O que faz com que religiosos sejam diferentes?” As coisas que fazem - 16,1% A vida que escolheram - 29,2% O hábito que usam - 7,4% A maneira como vivem - 18,4% As casas grandes que têm - 2% O espírito que os anima - 19,8% Outra - 3,5% Nenhuma - 3,5% Do contacto pessoal com os religiosos, os portugueses destacam a sua disponibilidade para ajudar os outros (mais de 20%) e a boa formação humana (19%), mas contestam as ideias pouco actualizadas dos mesmos (19%) e a intransigência, rigidez e autoritarismo (17%). O futuro Sobre o futuro dos religiosos e religiosas em Portugal, os inquiridos inclinam-se a acreditar que o seu número irá diminuir nos próximos 10 anos. Caso se confirme essa hipótese, defendem que se deve tornar a Vida Religiosa mais atractiva para os jovens (95,8%) e que os leigos devem ser chamados a colaborar (79,7%). Fora de questão está a opção de pura e simplesmente fechar as casas dos religiosos e vendê-las (94,3% de opiniões contrárias). A crise de vocações em que os portugueses acreditam tem a ver, na sua opinião, com três factores fundamentais: a pouca fé dos jovens (18,9%), o desconhecimento geral da Vida Religiosa (15,3%) e o celibato (14,9%). O egoísmo e o medo de compromissos para toda a vida também são aspectos que, segundo os inquiridos, fazem que haja poucos jovens a seguir a Vida Religiosa. Dados gerais sobre os religiosos em Portugal CNIR – Conferência Nacional dos Superiores Maiores dos Institutos Religiosos Institutos federados - 38 Total de membros religiosos - 1.917 Religiosos que residem em Portugal - 1.375 Religiosos que trabalham nas Missões “ad Gentes” - 455 Religiosos que trabalham com emigrantes / residem no estrangeiro - 87 Religiosos em formação ( professos, escolásticos, irmãos) - 203 FNIRF – Federação Nacional das Superioras maiores dos Institutos Religiosos Femininos Institutos - 107 Comunidades Religiosas - 738 Total de membros - 6.539 Religiosas a residir em Portugal - 5.919 Religiosas nas Missões “ad Gentes” - 447 Religiosas a residir no estrangeiro - 294 Juniores (total incluído no total de membros a residir em Portugal) – 210 ENSINO/COLÉGIOS Estabelecimentos – 117 Utentes – 39461 Funcionários – 659 religiosos; 4661 leigos IPSS Estabelecimentos – 218 Utentes – 23736 Funcionários – 792 religiosos; 3693 leigos LARES Estabelecimentos – 57 Utentes – 1161 universitários e 1026 idosos Funcionários – 263 religiosos; 521 leigos OUTRAS OBRAS Estabelecimentos – 57 Utentes – 70.000(centros de formação, espiritualidade e retiros); 5573 (hospitais, casas de saúde, Saúde mental); 1832 (outras). Funcionários – 406 religiosos; 3548 leigos.


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