A relação dos Papas com África remonta aos primeiros séculos, quando três dos Bispos de Roma foram homens nascidos nesse continente: São Vítor I, São Melquíades e São Gelásio I. Estes séculos de cristianismo viram, sobretudo, a evangelização do Egipto e da África do Norte.
Uma segunda fase, envolvendo as regiões deste Continente situadas ao sul do Saara, teve lugar nos séculos XV e XVI. É nesta altura que a relação do papado com África viria a ter significativos desenvolvimentos. Logo em 1452, o Papa Nicalau V, com a Bula “Dum diversas”, concede a Portugal o domínio sobre os territórios “subtraídos aos muçulmanos e aos infiéis”. Três anos depois, o mesmo Papa exortava o Rei Afonso V a construir igrejas e a enviar missionários, com a bula “Romanus pontifex”.
Em Março de 1456, o Papa Calisto III, com a “Inter coetera” colocava os territórios das Descobertas sob o domínio da Ordem de Cristo, dando origem ao Vicariato de Tomar.
Leão X, em 1515, criou a Diocese do Funchal (Bula “Pro excellenti praemi-nentia”), para as terras descobertas pelos portugueses, extinguindo o Vicariato de Tomar. Em 1518, decide nomear como Bispo Henrique Kinu-Mbemba, filho do Rei Afonso, e em 1521 concede-lhe autoridade sobre o Reino do Congo.
No ano de 1551, Júlio III assina a Bula “Praeclara carissimi”, que dá início ao Padroado português. Em 1596, Clemente VIII autoriza a erecção da Diocese de Luanda, com a Bula “Super specula autorizza”.
Uma terceira fase da evangelização em África, caracterizada por um extraordinário esforço missionário, teve início no século XIX.
De Paulo VI a Bento XVI
O primeiro Papa dos tempos modernos a viajar até África foi Paulo VI, que visitou o Uganda de 31 de Julho a 2 de Agosto de 1969. Após esta histórica visita, coube a João Paulo II percorrer praticamente todo o território africano, em 16 viagens apostólicas entre 1980 e 2000.
O falecido Papa polaco passou por 42 países e pelo departamento francês da Reunião, tendo mesmo repetido a visita no caso de 7 países. Começou pelo Zaire, Congo-Brazzaville, Quénia, Gana, Alto Volta (actual Burkina Fasso) e a Costa do Marfim, ao longo de dez dias, em 1980.
A última passagem por território africano aconteceu no ano 2000, aquando da peregrinação jubilar ao Monte Sinai, no Egipto.
Nos territórios lusófonos, João Paulo II passou por Moçambique, em 1988; Guiné-Bissau e Cabo Verde (1990); Angola e São Tomé e Príncipe (1992).
Nove anos depois, Bento XVI realizará de 17 a 23 de Março uma viagem aos Camarões e Angola, a terceira para o território camaronês (1985 e 1995, João Paulo II) e a segunda para o país lusófono.
SECAM
Entre os muitos frutos destas viagens, destaca-se o nascimento do SECAM/SCEAM (Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar, siglas em inglês e francês), que ganhou forma em 1969 na presença de Paulo VI.
Em 1995, João Paulo II assinou a exortação pós-sinodal “Ecclesia in Africa” (14 settembre 1995), referindo que “nessa ocasião, os Bispos procuraram endividuar os instrumentos apropriados para melhor compartilharem e tornarem eficaz a sua solicitude por todas as Igrejas (cf. 2 Cor 11,28) e, com tal finalidade, começaram a propor as estruturas adequadas a nível nacional, regional e continental”.
“Foi em tal clima que os Bispos de África e Madagáscar, presentes no Concílio, decidiram instituir um Secretariado-Geral próprio, com a missão de coordenar as suas intervenções de modo a apresentarem em Aula, quanto possível, um ponto de vista comum. Esta cooperação inicial entre os Bispos da África institucio-nalizou-se, depois, com a criação em Kampala do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar”, escreveu o Papa Wojtyla.
João Paulo II deixava clara a sua convicção de que “o desígnio que Deus tem de salvar a África está na origem da difusão da Igreja neste Continente. Ora, sendo a Igreja, segundo a vontade de Cristo, por sua natureza missionária, segue-se daí que a Igreja em África é chamada a assumir ela própria um papel activo ao serviço do projecto salvador de Deus”.