Dossier

Projeto Alcoutim: Jovens ao encontro do nordeste algarvio

José Carlos Patrício
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Cerca de uma dezena de jovens lisboetas, na sua maioria estudantes universitários, fazem-se todos os meses à estrada, rumo a Alcoutim, na diocese do Algarve, para levarem vida nova a um dos concelhos mais pobres e envelhecidos da Europa.

Segundo o padre Atalívio Rito, que acompanha aquela região há mais de 20 anos, este projeto, desenvolvido pelo Movimento ao Serviço da Vida (MSV), tem sido decisivo para devolver a “alegria” e o “calor familiar” a uma comunidade onde “reina a solidão, a terceira idade, a viuvez e o luto”.

“Normalmente eles partem de Lisboa sexta-feira à noite, chegam aqui à meia-noite ou às vezes até mais tarde, dividem-se em pequenos grupos e depois visitam as pessoas, ajudam-nas naquilo que é necessário, partilham a mesa, rezam com elas, levam até elas a sua juventude”, realça o sacerdote.

A falta de perspetivas de emprego, devido à falência da indústria e do comércio local, fez com que muitas pessoas abandonassem Alcoutim, em busca de um futuro melhor.

Só na última década, a população daquele município do distrito de Faro caiu praticamente para metade, cifrando-se agora em menos de três mil habitantes, na sua maioria idosos, distribuídos por montes e pequenas aldeias completamente isoladas.

No meio desta “pobreza habituada”, onde a palavra crise não faz sentido porque “as pessoas sempre viveram com o mínimo”, sublinha o padre Atalívio, os jovens do MSV acabam por levar também às pessoas “a única pastoral possível, a do coração a coração”.

Para ajudar a preservar a religiosidade destas pequenas comunidades, eles constroem pequenos nichos de oração, em cada aldeia ou monte por onde passam, normalmente dedicados a Nossa Senhora.

Apesar da sua simplicidade - em xisto e com cerca de um metro de altura -  estes oratórios improvisados têm contribuído para aproximar as comunidades locais, inclusivamente pessoas que estavam desavindas há anos, revela Tiago Cartaxo, um dos participantes no chamado “projeto Alcoutim”.

“Há montes onde, devido a situações relacionadas com terrenos e partilhas, as pessoas deixaram de falar umas com as outras e é fantástico quando nós conseguimos criar ali momentos de comunidade, de oração em conjunto”, salienta o voluntário de 29 anos.

Já com vários anos de ligação ao MSV e às gentes de Alcoutim, Tiago destaca sobretudo a “sensação fantástica” de poder participar num trabalho “muito importante”, quer para o interior algarvio quer para a formação dos mais novos, que “voltam para casa cheios de alegria, com a sensação de dever cumprido”.

“A partir do momento em que vamos a primeira vez, não queremos deixar de voltar porque cria-se mesmo uma relação, acaba por haver uma necessidade recíproca, sentimos como se eles fossem nossos tios ou avós”, complementa.

O MSV iniciou o “projeto Alcoutim” em 1998, procurando preencher um pouco o vazio de um concelho onde o número de mortes excede largamente o número de nascimentos.

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2007 nasceram apenas cinco crianças em toda a região, tendo se verificado no mesmo período 85 óbitos.

A mesma entidade adianta que se trata da região do país onde existem mais pessoas a viverem sozinhas em casa.

Uma vez por mês, os grupos de jovens visitam não só os montes e aldeias mas também o Lar de Alcoutim, “criando momentos de animação conjunta e de conversa mais individual, reforçando assim a relação de confiança que se vai criando entre idosos e voluntários”, explica a diretora do MSV, Madalena Vasconcelos.

A participação em atividades do quotidiano das pessoas, tão simples “como a apanha da amêndoa”, constituem também uma “experiência única” para os jovens, junto de “uma população vulnerável mas que detém uma sabedoria de vida enorme e verdadeiramente contagiante”, acrescenta aquela responsável.

Com projetos em Portugal e no Brasil, também ao serviço de crianças em risco e dos pobres e sem-abrigo, o MSV está neste momento a deparar-se com “sérias dificuldades” para continuar a sua missão.

Só no que diz respeito ao “Projeto Alcoutim”, os gastos decorrentes da deslocação (gasolina e portagens) e alimentação dos jovens voluntários, bem como do fornecimento dos materiais necessários à realização das atividades, ascendem a cerca de 4500 euros por ano.

No sentido de ultrapassar estas dificuldades, aquela instituição particular de solidariedade social tem neste momento aberta uma linha de apoio online, através do endereço eletrónico http://ppl.com.pt/investment/projecto-alcoutim1055.



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