Dossier

Promover práticas de boa governação

Elias Couto
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Intenção Geral do Santo Padre para o Apostolado da Oração - JULHO

Que os governantes e responsáveis pela economia e finanças do mundo se esforcem por encontrar soluções que garantam a cada povo os meios necessários para viver com dignidade. 1. É fácil perceber a quem se refere o Santo Padre, de modo imediato, nesta sua Intenção: a Organização das Nações Unidas, os líderes das grandes potências económicas (que constituem o chamado Grupo dos 8 ou «G 8»), a Comunidade Europeia, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Banco Central Europeu... Se alguém pode alterar alguma coisa na ordem (ou desordem) económica e financeira actual, são estas instituições. Alterar em que sentido? Não se trata, apenas, de «reanimar» a economia mundial, nem de emprestar dinheiro a países com problemas económicos agudos – até porque, muitas vezes, tais empréstimos acabam por se tornar fardos demasiado pesados para as frágeis economias que se pretendia ajudar. Trata-se, essencialmente, de assegurar que o egoísmo das nações mais ricas e desenvolvidas não se sobrepõe ao dever de solidariedade para com os povos em dificuldades. Ou seja, como diz o Santo Padre: «encontrar soluções que garantam a cada povo os meios necessários para viver com dignidade». 2. A pedra de toque de toda a questão é precisamente a «dignidade». Esta é uma exigência de toda a vida verdadeiramente humana. Ora, não vive com dignidade quem não dispõe do essencial, quem se encontra reduzido à condição de faminto sem esperança, de emigrante explorado e maltratado, de refugiado sem pátria nem futuro, quem é forçado a prostituir-se para poder sobreviver… E não vive com dignidade quem esbanja ostensivamente os bens da terra, julgando nada dever ao próximo, considerando que os bens que possui lhe pertencem de modo absoluto e não têm nenhuma função social. São estas situações de falta de dignidade que «os governantes e responsáveis pela economia e finanças do mundo» são chamados a alterar – essa é a exigência ética que se lhes impõe, tendo em conta os poderes que lhes foram conferidos. 3. É, sem dúvida, tarefa difícil. As injustiças e indignidades são demasiadas para serem enumeradas; as tragédias que atingem, às vezes, povos inteiros, parecem ir além das possibilidades humanas. Mas deve reconhecer-se, também, que o sentido da solidariedade, o trabalho voluntário em favor dos mais carenciados, o desejo de maior justiça e equidade na distribuição dos bens da terra são realidades bem presentes no mundo actual. E é também verificável um outro facto da maior importância: sempre que os países são governados segundo políticas de honestidade, luta contra a corrupção e liberdade política, social e económica, verifica-se uma diminuição da pobreza e da injustiça na distribuição dos bens. Não é, portanto, verdade que os países pobres estejam condenados a ser cada vez mais pobres. Pelo contrário, é possível promover condições de maior bem-estar, mesmo em países que tudo parece condenar à estagnação e à pobreza permanente, desde que neles sejam introduzidas práticas de boa governação. E as instituições atrás referidas têm aqui um vasto campo de acção. Enquanto continuarem a assistir, sem sobressaltos, em tantos países, à eternização no poder de governantes corruptos, que usam as riquezas do próprio país e até os bens da ajuda internacional em proveito pessoal, da família e dos bandos de malfeitores que os sustentam no poder, a dignidade humana continuará a ser espezinhada e a miséria será a condição inescapável de milhões de seres humanos. Se, pelo contrário, se esforçarem por promover, no respeito pelas tradições dos diferentes povos, práticas de boa governação, será possível, a prazo, progredir na luta contra a pobreza e em favor da dignidade individual e colectiva – mas, como é evidente, esta atitude implica uma opção ética que nem todos estão dispostos a fazer. 4. Aqueles a quem foi atribuído mais poder têm responsabilidades acrescidas diante da inteira família humana. Num mundo globalizado, pode e deve exigir-se-lhes que prestem contas do exercício do poder que lhes foi confiado, também numa perspectiva global. Exerceram-no de modo a edificar sociedades mais justas e fraternas ou contribuíram, apenas, para exacerbar os egoísmo nacionais? Com as políticas que puseram em prática, contribuíram para o bem de inteira comunidade humana ou foram incapazes de olhar para além dos limites do próprio país ou, tantas vezes, dos interesses próprios e daqueles que os rodeiam? Promoveram práticas de boa governação ou limitaram-se a assistir – quando não a apoiar – aos desmandos de governantes corruptos e criminosos? A promoção da dignidade dos povos passa essencialmente por aqui e não por discursos repletos de boas intenções mas, por vezes, impregnados de ideologias que apenas têm contribuído para afastar ainda mais povos inteiros dos caminhos do progresso económico e social. Elias Couto


João Paulo II