Dossier

Propinas: será justo pagar 2,5 €/dia?

A. Silvio Couto
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Os dados estão aí: desde o ‘arranque’ do ano lectivo universitário (final de Setembro e princípio de Outubro) temos assistido quase diariamente à contestação das propinas deste sector de educação, seja ao seu aumento e até (numa visão mais radical) à sua implementação. Os montantes possíveis situam-se entre 463,58 e 852 euros, a definir pelos órgãos de gestão das respectivas escolas. Feitas as contas, no caso da propina máxima – que até agora nenhuma universidade teve a ousadia de estabelecer! – será solicitado aos estudantes que frequentem o ensino superior público o pagamento de cerca de 2,5 euros diários. De facto as contestações estudantis são passíveis de múltiplas interpretações. Permitam-nos algumas em forma de pergunta: * As propinas ‘servem’ – segundo alguns – para pagar aos professores, que nas últimas décadas têm melhorado a sua qualificação. Não valerá ao ensino que a qualidade seja tida em conta, prestigiando que ensina e quem é ensinado? * É indubitável que as instalações universitárias (edifícios, zonas envolventes, bibliotecas, cantinas, etc.) estão mais cuidadas, nalguns casos com obras permanentes e quase inacabadas. Como se irá manter esta marca sem haver quem zele pelos equipamentos, fazendo-os seus e suportando a sua conservação? * A acção social – seja através de bolsas de estudo ou pela comparticipação dos educadores na melhoria dos meios envolvidos – apoia um quarto dos estudantes (mais de quarenta e quatro mil), com um gasto, em 2002, de cento e trinta milhões de euros (o dobro desde 1998). Como se poderá entender, então, o estendal de viaturas – muitas delas de alta cilindrada e topo de gama – que vemos nos parques de estacionamento das universidades? Serão (só) dos professores e funcionários? * Os ‘estudos baratos’ (ou até gratuitos) podem fomentar o prolongamento excessivo de alguns alunos/as de tempo excessivo nas universidades. Não será que os fazedores de manifestações, os fomentadores de contestação ou ainda os mentores de protestos estão menos interessados nos estudos do que na boa preparação para a vida profissional? Parece que temos todos de abrir os olhos e procurar entender a máquina que reclama, a força que motiva ou a teia em que está enredado este sector vital da nossa sociedade portuguesa. Será justo que os estudantes universitários paguem (só) 2,5 euros por dia, quando há tantas pessoas que sobrevivem com menos de dois euros como sustento para a família? A qualidade da nossa ‘massa cinzenta’ - conotada habitualmente com o sector instruído da sociedade – merece mais respeito e cuidado!... Haja justiça e equilíbrio entre direitos e deveres... para todos. A. Sílvio Couto


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