As técnicas para a cobertura de um congresso partidário serão muito diferentes das utilizadas na reportagem de uma celebração multitudinária em Fátima? E os métodos e os modos de acompanhar uma qualquer conferência de Imprensa ou para fazer uma simples entrevista serão distintos dos recursos necessários para fazer a notícia de um funeral ou de qualquer acto religioso? E a crónica parlamentar na técnica de que se socorre será substancialmente distinta da que se empresta ao relato sobre um desfile de moda ou de uma procissão?
Eis algumas perguntas que fiz a mim próprio quando andei a saltitar de estação para estação televisiva a ver quem informava melhor e com mais qualidade sobre a morte da Irmã Lúcia. Confesso não ter ficado satisfeito com o pouco que vi. Terá sido azar meu, talvez, mas os relatos que me chegaram davam para chumbar os candidatos a repórteres que inopinadamente me entravam em casa.
Como informar sobre matérias religiosas? Que fazer quando a Igreja é notícia?
Entre nós sabemos que estas questões estão longe de estar resolvidas. Salvo raríssimas excepções, a maioria das redacções dos grandes meios de comunicação social em Portugal trata mal, ou não chega sequer a tratar, a matéria religiosa. Da parte da Igreja, quando ela própria é noticia ou desta a querem fazer, exceptuando honrosas excepções, também não se verificam grandes esforços para ajudar a ultrapassar limitações e manifestas insuficiências de aprendizes de jornalistas atrevidos que não se coíbem de falar, escrever ou relatar sobre o que não sabem e, pior ainda, exibem sem pudor a sua impreparação.
Os quatro mil caracteres concedidos para este escrito não permitem outros desenvolvimentos sobre questões tão complexas e igualmente difíceis para os meios de comunicação social e a Igreja, ou as igrejas. Trata-se, como sabemos, de uma equação que exige o empenhamento de todos os actores: directores, editores e repórteres – que nas Redacções de grandes meios de comunicação social continuam a tratar o religioso como uma questão menor; e dos dignitários das igrejas quando eles ou as suas instituições são notícia e ganham presença nos media.
Seja como for, adianto uma resposta para as interrogações do início do texto.
Da parte dos media não descortino razões para continuarem a menosprezar justificar menor empenhamento na formação e na utilização de recursos, além de outras omissões, com o argumento de que não interessa às pessoas e por isso não é notícia. Mais: na sua essência, notícia política em nada difere de notícia religiosa, requerendo ambas igual tratamento com recurso às mesmas técnicas jornalísticas. Quando a catequese quares-mal do patriarca de Lisboa figurar nas agendas das redacções ao lado de uma conferência de Imprensa de um político de terceira linha, então, estaremos mais próximos da compreensão do problema.
Do mesmo modo, da parte da instituição ou do actor que está na origem da notícia religiosa não deverá continuar a haver lugar para desconsideração dos media pelas suas omissões, imprecisões e defeitos, agravando distâncias e desconfianças mútuas.
Quase me atrevo a perguntar: por que não inscrever entre os desígnios da nova evangelização a sensibilização dos media para a notícia do religioso?
A palavra do Papa João Paulo II dirigida aos responsáveis das comunicações sociais, na carta apostólica enviada a 24 de Janeiro de 2005, na festa de S. Francisco de Sales, patrono dos jornalistas, reveste-se pois de uma oportunidade fantástica.
A carta é, de facto, enviada aos responsáveis das comunicações sociais, presume-se portanto que os seus destinatários serão os directores, chefes de Redacção e editores. Arrisco, no entanto, um outro olhar: vejo esta carta do Papa sobretudo como uma interpelação directa de João Paulo II às comunidades eclesiais para lhes dizer “que o uso de técnicas e das tecnologias da comunicação contemporânea fazem parte” da missão da Igreja “para o terceiro milénio.” E, noutra parte lhes sublinhar que “valorizar os meios de comunicação social não é apenas uma tarefa de ‘entendidos’ do sector, mas também de toda a comunidade eclesial”.
Destaco finalmente três opções fundamentais de intervenção nos meios de comunicação social, também indicadas pelo Papa: formação, participação e diálogo. Vejo aqui a chave para as comunidades eclesiais redescobrirem o decreto conciliar Inter mirifica, agora retomado nesta carta por João Paulo II, e perceberam a urgência do reencontro com os meios de comunicação social.
José António Santos
Jornalista
Secretário-Geral da Lusa