Quaresma solidária e empreendedora

A Igreja Católica em Portugal está no terreno com diversas iniciativas para responder ao agravamento da situação socioeconómica provocado pela actual crise. O tempo é de acção e a Quaresma é, neste sentido, um momento privilegiado para a solidariedade, dado que a ideia de uma “renúncia” ou um donativo neste período litúrgico está fortemente ligada à tradição do jejum e da esmola.

Esta edição do semanário Agência ECCLESIA apresenta uma entrevista ao presidente da Sociedade de São Vicente de Paulo (Conferências Vicentinas), António Correia Saraiva: “Essencialmente, os vicentinos vivem das dádivas das pessoas em cada paróquia. Como reunimos – por norma – todas as semanas para dialogar sobre os novos casos fazemos uma colecta para a conferência. Quando fazemos apelos nas missas dominicais aparece de imediato o bem solicitado. Tanto pode ser um frigorífico como uma cama”, relata.

Outros responsáveis e especialistas pela área da Pastoral Social da Igreja Católica em Portugal falam sobre formas concretas de ajuda e projectos que visam oferecer às pessoas não só um auxílio pontual, mas a oportunidade de um verdadeiro recomeço.

É neste contexto, comum a muitos países em todo o mundo, que a mensagem de Quaresma de Bento XVI, neste ano de 2011, pede aos cristãos que resistam à “idolatria dos bens”, aproveitando para desenvolver a sua “capacidade de partilha”.

“A avidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha”, escreve o Papa.

Em Portugal, este tem sido também um momento para a mobilização da sociedade civil, como testemunha o movimento “Empreenda Por Favor!”, que pretende falar aos “agentes de mudança” - aquele que recria o seu percurso profissional, que desenvolve o seu negócio, que gera empregos e riqueza.

Nesse contexto, o movimento oferece “um programa nacional para aprender a empreender com que sabe fazer”, revela “onde estão os recursos e apoios financeiros de incentivo ao empreendedor” e, acima de tudo, deixa um conselho: “crie o seu próprio emprego na actividade que tem experiência através do sistema de franchising, ou iniciando um negócio próprio ou comprando uma empresa existente”.

Ainda neste âmbito, o Instituto de Empreendedorismo Social (IES) mostra “a fé de que em Portugal esta nova área deve ser estimulada para o desenvolvimento de mentalidades que focam na solução com a inovação e o crescimento do impacte de projectos verdadeiramente transformadores que quebram ciclos de problemas na nossa sociedade”.

O IES é uma Associação sem fins lucrativos, fundada em Dezembro de 2008, que nasceu do envolvimento de pessoas chave em torno do tema de Empreendedorismo Social em Portugal e na Europa que testemunharam a relevância e destaque dos empreendedores sociais no mundo.

Um pouco por todo o mundo multiplicam-se ainda as «TED Talks», nascidas no seio de uma organização sem fins lucrativos, dedicada à difusão de ideias inspiradoras através do formato conferência. A sigla significa Tecnologia, Entretenimento e Design: estes foram os temas que inspiraram a primeira palestra, organizada em 1984 por Richard Saul Wurman.

Actualmente, o leque alargou-se para permitir a divulgação de qualquer ideia que mereça destaque. Os oradores incluem cientistas, filósofos, músicos, líderes religiosos, filantropos e muitos, muitos outros.